Mais um contributo do Zé Gil
TEMPO de FEIRA
Gil Monteiro*
Será que os tempos de crise tornam os
dias de feira mais movimentados?
Talvez. É preciso quase tudo vender,
para pouco se poder comprar! Mas, o mercadejar é intenso, desde quem apregoa as
castanhas da cesta ou vende por 3 euros dois guarda chuvas! Assisti às reais
transações na última feira de Trancoso: muitos espaços e grande variedade de
artigos expostos, quase todos em bancas próprias ou tendas montadas; o mercado
municipal, amplo e moderno, estava em funcionamento. Só um vendedor
(marroquino?!) vendia kispos espaciais e especiais na escadaria do mercado!
O artesanato antigo está na berra,
desde a venda de piões de nicas às bonecas caseiras, feitas para meninas! Mas
eram os objetos antigos, que se viam a funcionar na meninice, a mostrar novas
pujanças. Os candeeiros de vidros, as tenazes e espetos, potes de ferro... Até
os panelos (em barro vermelho ou preto de Bisalhães) furados para assar
castanhas à lareira, ou tostar nas cozidas, “sorriam” aos passantes! Fazia
sorrir, mesmo, os pregoeiros das tendas em competição, em frente das várias
barracas próximas. Um até desabafou:
– Vendo mais barato e ninguém me compra!...
Será que a iluminação por candeias,
lampiões e candeeiros vai voltar?! A energia elétrica passou a ser muito cara?!
Devido aos incendiários dos montes, há mais lenha para a lareira?
A costela rural vibrou ao ver velhos
e novos artefactos agrícolas. Tive em mãos uma enxofradora de balanço (antiga)
e uma podoa de serrar e cortar ramos das árvores (moderna). As plantas
ornamentais e de sabores eram muito transacionadas, principalmente as roseiras,
rabanetes e alhos francês. Mas, forte, forte, eram as muitas plantas de viveiro
a aliciarem novos donos. Acarinhei uma oliveira, de meia altura, carregada de
olivas – merece o termo – de tamanho superior, nunca vistas em árvore, mesmo na
Grécia! Não a comprei, apesar de custar 50 euros, por ser única, e poder não
fazer descendência.
Antigamente, na feira de S. Martinho
de Anta, os negócios de monta, porcos, cavalos, ovelhas, eram rematados e
selados bebendo uns copos de vinho na taberna; o nosso deambular, agora,
terminou num café, onde havia uma grande bicha para registar o euro milhões!
Tendo, antes, passado pelas bancas dos enchidos e presuntos; dos queijos e
doces e compotas caseiros. Por pieguice a comprar, passei ao largo do doce da
Teixeira. Ó Providência! – O filho João, sofrendo do mesmo apetite, comprou uma
embalagem, sem ninguém pedir ou mostrar interesse, e revestida em hermética
folha plástica!
As muitas atividades feirantes
mostraram um Portugal renovado, com muita afoiteza para ser próspero.
Era preciso almoçar, logo entrar na
fortaleza. O café restaurante o Castiço fazia apelo, com rodas de carros de
bois e alguns apeiros, decorando a entrada. Tivemos sorte. Alem de servir vinho
de Soutelo do Douro, podemos escolher, agora tanto na moda, a salada de
bacalhau desfiado, tigelas de tripas, sem arroz, comidas à colherada, entre
outros petiscos, degustei:
pela
primeira vez, milhos doces!!!
Ao pedir arroz doce e aparecerem os
milhos, saiu-me a lotaria!
Porto, 6 de novembro de2013
*José
Gil Correia Monteiro
jose.gcmonteiro@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário