quinta-feira, 3 de maio de 2012

"O MEDO", DO ZÉ GIL

O MEDO







É preciso não escrever com medo. Qualquer trabalho deve passar por avaliação e crítica. Quando tal não acontece, o autor, que faz sempre autocrítica, é mais severo na análise e correção dos assuntos redigidos. Ao grande poeta contista, Miguel Torga, ouvi-o dizer:


– Uma frase pode levar uma tarde para ficar com a melhor forma.


Se as críticas positivas podem despertar o ego, as negativas ficam mais persistentes na elaboração de novos trabalhos, e contribuem para a evolução e eficiência da escrita; “se as houver”, diria Natália Correia.


As ligeiras observações são, por vezes, as de melhores frutos: termos mal utilizados, pontuação e outros, como o referido pelo distinto padre Minhava:


– Gosto do que escreve. Não precisa de usar palavrões!


Jamais os usei, ainda que a linguagem pudesse ser mais expressiva, pelo uso de tais vocábulos, agora quase banais, mas que faziam ruborescer.


Gostaria de ir ao encontro de dois tipos de escrita: o citadino-rural de Júlio Dinis e o de “escrever no osso” como o de José Cardoso Pires fez nas suas produções literárias.


Os atores, comunicadores, cantores, etc., tidos como os mais desinibidos em cima de um palco, enfrentando os espectadores, são muito tímidos, segundo afirmam nas várias entrevistas. Para se libertarem de entrarem em pânico, pelo medo, chegam a tomar drogas. Mas, esses receios vencidos passam a ser libertadores! Diria: quanto maior é o medo, maior é a probabilidade de êxito. Nuno Álvares Pereira teria entrado em vigília, antes da batalha de Aljubarrota, exorcizando os temores ao inimigo.


Um sargento leccionando uma secção de soldados, ao seu redor na parada do quartel, o manejo das granadas, teve o azar de atirar uma para o meio do grupo, a fim de dar maior realismo à exposição, quando a tinha despoletado, e só se lembrou quando ia no ar; saltou para a recuperar e morreu sobre ela, impedindo a morte dos seus soldados. O risco de sobrevivência do sargento obstou outras desgraças. Ainda bem, foi condecorado por ato heroico.


Quando uma comunidade entra em período agudo de carências, os roubos aumentam. Ultimamente, os assaltos às residências, na cidade do Porto e Grande Porto, são um flagelo. Portas de apartamentos e vivendas, com fechaduras de alta segurança, são abertas e fechadas, antes e após os roubos, conforme os utentes o faziam. Chamada a Polícia, ao andar assaltado, informa:


– Os nossos técnicos não conseguem abrir uma porta como eles, temos que, em certos casos, de arrombar as portas a “black and decker”!


Andam os amigos e conhecidos cheios de medo. As condições de segurança vão sendo aumentadas: mais chaves, mais alarmes, nas portas de entrada e da garagem; elevadores sempre trancados. As habitações passam a prisões – a casas roubadas trancas à porta!


Do negativo pode nascer mais colaboração e amizade: um por todos e todos por um; as visitas passaram a ter a despedida à entrada do elevador e na saída do prédio, pois é preciso levá-las ao passeio, abrindo o portal da rua.


Os assaltantes “modernos”, nem para os animais, têm sido violentos, e não são de partir e destruir por malvadez, levam só dinheiro, ouro, joias, deixando mesmo as pratas!


Sabe bem recordar a aldeia transmontana, onde a chave de casa era guardada num buraco da parede ou ficava na porta!



Porto, 3o de abril de 2012



*José Gil Correia Monteiro

jose.gcmonteiro@gmail.com

1 comentário:

Anónimo disse...

Zorramigo

Ah ganda Gil! Parabéns pela transcrição.

Abç

PS - Já voltei de Goa, infelizmente; aparece.