terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CONTRIBUTOS EXTERNOS



Mais um contributo do Henrique Antunes Ferreira

O tiro de Draghi

Antunes Ferreira

Debaixo dos pés levantam-se os trabalhos. O acerto deste ditado é total no que respeita ao tema dum programa (chame-se-lhe o que se quiser, desde cautelar até segundo resgate) que não se vê bem onde e quando parará. O (des)Governo começara a embandeirar em arco e, de repente descobriu que metera água – e de que maneira.
Não adianta tecer mais comentários sobre o que foi o tiro de Mario Draghi ao declarar em Bruxelas que o nosso país vai precisar de mais um programa quando o actual programa de resgate terminar, de tal forma ele atingiu o porta-aviões de São Bento, os submarinos de Portas, a caravela do Imóvel de Belém que os vai levar a naufragar, para não dizer mesmo, a ir ao fundo.
Nestas coisas de batalha naval nunca se sabe quando o adversário atira a matar. Normalmente, ele faz movimentos exploratórios antes de dispara os canhões e/ou os torpedos de que está munido. É uma chatice, mas delas está a vida cheia e o Mundo também. Mais ou menos como os indispensáveis que, naturalmente enchem os cemitérios.
Mas, não há nada melhor do que realmente e as armadilhas da sorte estão sempre prontas a enterrar o desgraçado que nelas cai. Tome-se como exemplo, o texto que se segue, publicado na edição on-line do “Público” de segunda-feira, que cada vez mais é um órgão da comunicação social que ganhou o seu espaço e agora defende-o tenazmente. O que também é muito natural…

“Os mercados já estavam a dar como certo que Portugal não ia precisar de um segundo resgate. A questão que se colocava nesta altura era saber se Portugal iria ter um programa cautelar ou se, eventualmente, conseguiria uma ‘saída limpa’ da troika como conseguiu a Irlanda. Aliás, ainda ontem, na conferência para a apresentação dos resultados da décima avaliação, Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas fizeram questão de mostrar que as duas portas ainda estavam abertas.
O problema é que a seguir à conferência chegavam notícias contraditórias de Bruxelas, onde Mario Draghi estava a ser ouvido na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu. A uma pergunta do eurodeputado do CDS-PP Diogo Feio, o presidente do Banco Central Europeu veio dizer aquilo que poucos esperavam que dissesse: que Portugal vai precisar de mais um programa quando o actual programa de resgate terminar. Draghi não especificou os contornos desse novo programa – que se supõe ser o tal cautelar –, mas a afirmação vem fechar as portas para que Portugal possa ter a tal ‘saída limpa’, isto é, sem a ajuda de terceiros.
As palavras de Mario Draghi não deixam de ser um balde de água fria para o Governo e, a esta altura, o próprio Diogo Feio já estará arrependido de ter feito a pergunta. Ao pôr de lado o cenário de uma saída ‘à irlandesa’ de uma forma tão precoce, Mario Draghi está a dar um mau sinal para os mercados. Ou seja, nem ele próprio parece acreditar que daqui a seis meses os juros de Portugal já estejam a níveis que permitam ao país um regresso tranquilo aos mercados. É uma daquelas profecias que correm o risco de se auto-realizar, já que os nossos credores vão questionar-se: "Se Dragui não acredita, porque haveríamos nós de acreditar?". É caso para dizer que Draghi, no mínimo, falou fora de tempo.”

1 comentário:

500 disse...

Não seria possível juntar o Pedro, o Paulo, o Mário, a Lagardere, o Barroso, a Merkel (e porque não não o Imóvel?), no sentido de falarem a mesma linguagem, entendível? Pois é, mas se assim fosse, os "mercados" não ganhavam o seu, como é legítimo.