segunda-feira, 17 de março de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Aqui vai mais uma estória do Amigo Zé Gil


AS POMBAS
                                                        *Gil Monteiro

Da fauna e flora do habitat, onde viemos ao mundo, fazemos escolhas, sem critérios definidos, de seres mais simpáticos e importantes, no interagir. Assim, as cerejeiras são veneradas e as romãzeiras um espetáculo! Se as variedades de cerejas dão prazer, mesmo antes de serem comidas, as romãs são fruta preguiçosa – baga comida, baga a comer, sem acabar... Frutos tão lindos e coloridos que nem sempre são sacrificados para comer. Ainda que percam as cores, ornamentam a sala de jantar perto dum ano! Se tivesse nascido junto a um mar de golfinhos, tinha que ter um como amigo-amigo; assim, em aldeia transmontana, tive direito a um cão rafeiro. Foi o meu grande fiel companheiro nas correrias de montes e vales, antes de ir aprender o á-é-i-ó-u, com a Sr.ª D. Albertina. Mas, deixei de ficar aflito com a inundação do Dilúvio, quando a Ana Ventura leu a Bíblia, para os ouvintes da eira da Fonte:
 – A pombinha regressou à Arca com um raminho de oliveira!...
A pomba é o animal em que Deus ou Noé confiaram e confiam. É o símbolo da paz e harmonia. E as pombas brancas?! Representam a pureza do que há mais puro. Mesmo na cartola do ilusionista, provocam magia. As que vi, no trono da Virgem Peregrina de Fátima, pelas terras transmontanas, formavam um grupo de lindas aves brancas aos pés da imagem abençoada.
O namoro entre as espécies animais é cativante, mesmo quando parece brusco e dorido, e ia dizer: até as plantas o praticam! Mas, assistir ao namoro dos pombos é o máximo! Ir passear ao jardim de S. Lázaro (Porto) e assistir às curtas-metragens de filmes ao vivo, sobre o acasalamento dos pombos, é giro... O bater de asas, de penas luzidias e matizadas, as correrias e os pequenos voos, afastar os concorrentes da “noiva” e... Mas, as meiguices e os beijinhos são de espantar. Mesmo as bicadinhas na cabeça existem bem requeridas. Irem trocar ADN num ramo dum plátano, com juras de acasalamento eterno, é o fim lógico de tanto amor mostrado e consentido.
De regresso ao Porto, após o domingo passado no Douro, a Maria Fernanda topou uma pomba combalida na entrada do prédio. Teve direito a primeiros socorros urgentes. Limpa, e resguardada em pano quente, foi mostrada à veterinária vizinha, que informou:
 – Está muito debilitada, não tem fraturas e, como é jovem, pode ser que escape!
A marquise rápido virou a marquesa hospitalar! E, quando a pomba comeu e bebeu, a enfermeira sorriu gratificada, e contente, foi dizendo:
 – Pelo menos impedi as gaivotas de a comerem!
As gaivotas da minha rua são endiabradas. Em voo de esquadrilha caçam as inocentes pombas. Lançam berros horripilantes, quando o mar está furioso no paredão do farol do Passeio Alegre (Foz) e, são danadas para romperem os sacos do lixo, junto aos contendores. Não consigo compreender como podem ser tão inspiradoras de poemas e canções. Quanto mais leio ou ouço o sublime poema Gaivota de Alexandre O’Neill, mais gosto da letra e menos das gaivotas, apesar de já as ter visto voar na cidade da Régua!
A nossa pombinha de estimação, tratada com todo carinho, morreu. Teve direito a saco individual, e metido no contentor camarário, para não servir de alimento aos gatos vadios.



Porto, 11 de março de 2014




                                                              *José Gil Correia Monteiro   

                                                                                jose.gcmonteiro@gmail.com

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