segunda-feira, 29 de junho de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS

PROMESSA

                                                                                                     *Gil Monteiro

O prometido é devido. Mas, nem ao maior amigo, se deve prometer. Pode haver falhas pelo caminho no desejado cumprimento. Como? Deixar compor o combro do lameiro da fonte, quando meses após uma enxurrada erosiva fez desaparecer os lameiros de milho, feijão, abóboras... e relva para secar (feno) de forragem dos bois, cavalo ou ovelhas e cabra leiteiras. E nada feito!?...
O António Maria, abastado agricultor de freguesia transmontana, com uma quinta linda e rica em Ribapinhão, onde os figos lampos e os cachos de uvas brancas moscatel de Favaios amaduravam mais cedo, e tinham o privilégio de serem penduradas nos andores, fazendo companhia aos santos (as) e abrir a boca de espanto e gula à criançada, e até adultos, durante a procissão de Santa Maria Madalena de junho. Eram deglutidos, mentalmente, entre as rezas e os ritmos da banda musical de Sanguinhedo! As primeiras videiras de moscatel, transplantadas para a aldeia serrana, tiveram de ser guardadas por profissionais de espingarda ou por os muros da vinha revestidos com silvas e tojos arnais.
A Antónia Manuel e o Rui José, filhos mimados do lavrador, foram estudar para colégios do Porto. Nas férias estudantis a freguesia era outra. Até o Sr. Prior parecia um rapaz de camisa branca e fato preto! Dirigia as comédias e atividades recreativas, onde os grupos corais e musicais colaboravam. O intercâmbio das gentes dos povoados era forte e constante. Os espetáculos de maior nomeada podiam ir ao salão da Vila. Era a consagração!...
Não havia aparelhos. Apenas uma grafonola na casa do Sr. Abrão e um rádio de bateria do Sr. Ferreira, de grande antena montada entre as macieiras do quintal. Nas festividades de Fátima era colocado ao cimo das escadas graníticas para o povo ouvir as reportagens da Cova da Iria. Rui José, com a sua “potente” galena, construída nas aulas de Ciências Naturais, ia passando de ouvido a ouvido dos rapazes perplexos,
 de mãos postas a rezar e cantar o Ave-Maria! Mais tarde, já o velho Ford do pai debitava os programas da RDP, pelo rádio ronceiro ligado à bateria!
O nosso Rui, brilhante aluno do Colégio João de Deus, na cidade mística do Porto, não completou o último ano do liceu, por “desvio” ao desporto automóvel, em corridas e ralis, e uma ou outra gincana, nas terras transmontanas. O seu morris-minor era fabuloso! Um pai, por vezes, clandestino, ia bater merecidas palmas.
Conseguiu entrar na Faculdade de Medicina! Foi uma festa, festejada para Além Marão. O Sr. Prior, na prédica dominical felicitou o desportista e o futuro médico. O casal Pinheiro recebeu cumprimentos, nas escadas da frontaria da Igreja, como tivesse casado um filho! O entravado Simão, arrastando as muletas, foi ao beija-mão!
Mas, a grande solenidade foi reservada para o salão da quinta da Vaca-loira do douro, onde se aplaudiu a aprovação na última cadeira do curso médico do Dr. Rui. Várias pessoas choraram de alegria!
Filho: Espero a oferta do carro novo de ralis da BMW!...
Pai: Sempre fumei muito. Vês este maço de tabaco?! Vou desfazê-lo com a bota. Quando me vires meter um cigarro à boca, pede o carro.../...




Porto, 18 de junho 2015                                       *José Gil Correia Monteiro
                                                                                  jose.gcmonteiro@gmail.com



 


2 comentários:

Kim disse...

Bem esgalhada!

maceta disse...

ironia bem descrita e carregada de conteúdo...