sexta-feira, 26 de junho de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS




Grécia – quo vadis?

Por Antunes Ferreira


O folhetim do chamado caso grego ainda continua e parece que não terá um happy end rápido. Aliás, nem happy nem end. As duas partes em conflito persistiam na defesa das suas propostas; como se sabe, dum lado o Sirysa (o super esquerdista partido da Grécia no poder, que é o mau da fita) – do outro os bens, ou seja os credores: a Comissão Europeia representando a (des)União Europeia, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BCE, o Banco Central Europeu. São os membros da malfadada troika, supostamente representando os país da união monetária menos um: a citada Grécia.

A Zona Euro persiste numa mistura explosiva: na expectativa e em pânico. E a Führer Angela suposta autora da segunda edição, revista e ampliada, do “Mein Kampf”, que é realmente a patroa dos bons, vê-se em palpos de aranha para tentar acalmar os “mais bons” e os “menos bons” uma divisão que pode vir a ser o princípio da falência e o subsequente epitáfio da Europa (des)Unida. Pelo andar da carruagem, Portugal faz parte dos “mais”, de acordo com os discursos dos supostos PR e PM.

A procissão hesita entre sair do adro e nem sequer a ele ter chegado. Os portadores dos andores, porém e como sempre, os Zés Povinhos dos países, o que quer dizer que são os povos das diversas nacionalidades que amocham, pagam os seus impostos e aguentam até haver uma decisão final. Os grafitis nas paredes “Os ricos que paguem a crise” foram substituídos por “Os pobres que paguem a crise”. A Europa está à beira do abismo e pode haver um louco que dê a ordem: um passo em frente, marche! Europa – quo vadis? Grécia também quo vadis?

Tente-se fazer o ponto da situação, pelo menos aquela que na quinta-feira era possível e que, se calhar, quando este texto sair a público, já não é, quiçá continue a ser. Recorra-se, uma vez mais à comunicação social que terá encontrado uma válvula de escarpe para a pré(?) campanha eleitoral…E para a agredida Ucrânia que hoje só é motivo de umas quantas linhas, apesar de continuar a ser agredida e invadida pelas tropas de Moscovo.

“Os ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se este sábado pela quinta vez no espaço de dez dias, num novo esforço para tentar chegar a um acordo que permita à Grécia evitar a entrada em incumprimento. Depois de novo impasse nas negociações, a Grécia só tem alguns dias para obter financiamento, já que tem de devolver a 30 de Junho 1,6 mil milhões de euros ao FMI.” Diz a Lusa. Por outro lado “A agência Reuters já confirmou esta informação e adianta que depois de o Eurogrupo realizado na quinta-feira, 25 de Junho, não ter permitido chegar a um acordo sobre o plano de reformas que Atenas terá de implementar para poder receber a última tranche de 7,2 mil milhões de euros, prevista no programa de assistência helénico ainda em curso e que também termina no dia 30 de Junho, os ministros das Finanças farão um novo esforço para desbloquear a situação já no próximo sábado”.


Depois das declarações que na segunda-feira indiciavam que a proposta apresentada nessa manhã pelas autoridades helénicas permitiria atingir um acordo final ainda esta semana, as negociações ao nível técnico não confirmaram as expectativas. Apesar das cedências feitas de ambos os lados da negociação, o Eurogrupo (…) não chegou mais uma vez a um acordo. Fräu Merkel “referiu-se ao recuo da Grécia como factor impeditivo da concretização de um acordo abrangente de reformas, colocando nas mãos dos ministros das Finanças a responsabilidade de encontrar um caminho que satisfaça todas as partes”.

Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis estão cada vez mais entre a espada e a parede. Poderão ser vitimas de um diktat do Eurogrupo, melhor dizendo da sua boss Angela. Voltamos `a 1939/45? Será a chanceler alemã capaz de fazer pela via das finanças o que Adolf Hitler não conseguiu alcançar manu militari? Mas, por outro lado, a saída da Grécia também poderá apontar para a desagregação da Europa (des)Unida? A dicotomia é apavorante para os dois lados: a derrota do Sirysa ou a …derrota da Europa.

Depois de o primeiro-ministro grego ter anunciado um referendo aos gregos, estes foram para a rua, não para protestar, mas para levantar dinheiro nas caixas multibanco. No entretanto, o ministro grego da Defesa Panos Kammenos, do partido Gregos Independentes (Anel), admitiu hoje de manhã que o Governo pode recuar no referendo se os parceiros da zona euro aceitarem a proposta de acordo apresentada por Atenas.

Em Lisboa Cavaco (por via da caríssima esposa), Passos & Portas e Maria Albuquerque rezam à Virgem de Fátima para que poise numa nova azinheira, resolvendo assim o impasse, mesmo que seja necessário fazer rebolar o Sol. Será que um milagre resolverá a crise europeia? Dificilmente isso acontecerá. A Senhora tem mais coisas para se ocupar e preocupar do que de mais uma crise do Velho Continente, que são peanuts para a corte celestial (se ela existe…)

Por mais incrível que pareça, de Bruxelas surgiu a notícia de que a Grécia não se pode queixar de falta de flexibilidade da troika, porque para os outros países sujeitos a programas não foram feitas tantas cedências. Esta tem sido a posição de Portugal nos últimos dias de negociações com a troika e foi a ideia defendida por Coelho no final do conselho europeu terminado ontem. Realmente quer o venerando Chefe de Estado quer o (des)Governo vêm sendo mais papistas do que o Papa. Oxalá não lhe estale a castanha na boca.



Em Moscovo, o filho da Putina esfrega as mãos de contente. Poderá apoiar a Grécia do Sirysa? Com quê? Com o rublo desvalorizado? Mas, mesmo assim, a “receita da” troika, a austeridade, está a fazer esquecer a invasão da Crimeia e agora da Ucrânia pelas tropas de Moscovo. Para Beijing, a tradicional e esfíngica paciência ainda está em banho-maria. O bem de uns é sempre o mal de outros. Ou seja, como diz o povo, “pimenta no cu dos outros é refresco para muitos”

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