quinta-feira, 1 de outubro de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Não revelar um centímetro


Por Antunes Ferreira

Alguns Portugueses mais ingénuos ou menos informados julgavam e julgam que o senhor que ocupa o Palácio de Belém (felizmente em regime de transitoriedade) era/é o Chefe do Estado (a que isto chegou…piada calina, mas que gosto de utilizar). Gente bem-intencionada, muita dela que ainda acredita no Pai Natal, acha que é melhor ter um Presidente da República do que não ter nenhum. De resto o povo também afirma que é melhor ter um pássaro na mão do que dois a voar. Longe de mim fazer tal comparação espúria: os passarinhos não a mereceriam; já os passarões…
E já que estamos no tema voar, refiro aqui as palavras de Sua Excelência aos jornalistas em Nova Iorque para onde voou a fim de tomar parte no âmbito da abertura da 70.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Antes de embarcar de volta a Lisboa e perante perguntas que lhe foram feitas por elementos da comunicação, Cavaco não foi de modas e disse com todas as letras que "Quanto ao dia 5, eu estou com muita tranquilidade, sei muito bem aquilo que irei fazer e todos sabem que eu sou totalmente insensível a quaisquer pressões, venham elas de onde vierem.”
O putativo PR ainda declarou: “Decidirei nos termos dos meus poderes constitucionais e colocando sempre em primeiro lugar o superior interesse nacional". No entanto Cavaco  escusou-se a revelar a forma como irá decidir, apesar de afirmar já ter uma solução pensada: "a forma como irei decidir, embora já esteja na minha cabeça, eu não irei revelar nem um centímetro". E acrescentou: "Não quero avançar absolutamente mais nada, segui o princípio de nunca fazer nenhuma afirmação que pudesse ser entendida como interferência na campanha eleitoral".
Porém, não se ficou por ali, reiterando que a campanha eleitoral está a decorrer com "uma razoável normalidade" e que parece ter sido "mais esclarecedora" e sem "níveis de ataque pessoal" como no passado, Cavaco  pediu que se deixe os partidos terminarem este período com "o mesmo espírito esclarecedor com que chegaram até aqui". Ele também fez referência a notícias que saíram sobre o que pensava do pós-eleições, mas assegurou que nem ele, nem nenhum elemento do seu gabinete fez declarações sobre a campanha eleitoral além do "pedido elementar" para que todos se empenhem no esclarecimento e no respeito pelo eleitorado.

"Aguardo, de facto, com toda a tranquilidade e serenidade o conhecimento dos resultados que irei acompanhar - como percebem - com muita, muita atenção", disse. Face a uma pergunta
sobre se o número de mandatos que os partidos alcançarem será um factor determinante na sua decisão, o chefe de Estado insistiu na recusa em fazer qualquer afirmação sobre o pós-eleição, argumentando que "poderia ser interpretado como tentando condicionar aqui ou acolá".

"Irei ainda falar ao povo português no sábado, será aquilo que é hábito da parte do Presidente da República, o apelo a que todos vão votar. Isso é o mais importante, que todos vão votar em consciência", acrescentou, insistindo que "agora ainda é o tempo dos partidos" e que "não é ainda o tempo do Presidente da República". No que concerne à abstenção, o venerando chefe de Estado disse ter esperança que os habituais níveis elevados possam reduzir-se, aludindo às recentes eleições na Catalunha, onde a taxa de participação foi muito elevada, porque os eleitores consideraram que estava em causa algo muito importante para o futuro da Espanha e da região.

Terminou em glória, ainda que sem palmas: "Eu desejava isso, que os portugueses considerassem que esta decisão do próximo dia 4 também é algo muito importante para o futuro do país. É uma decisão dos portugueses e eu espero que eles não deixem de encontrar lá um espaçozinho nas suas actividades do dia 4 para dirigirem-se às secções de voto", disse ainda. Gostei particularmente do “espaçozinho” que deverá, por certo, na galeria de disparates pronunciados: “cidadões”, “façarei”, etc., tudo com o apoio à produção da Senhora de Fátima e da editora do Manual de Berros da autoria de Manuel de Barros.

Este comentário é 90 % respigado da comunicação social; mas para mal dos meus pecados – que são muitos – também os ouvivi, contrariando uma vez mais uma decisão irrevogável que antes tinha tomado e afirmado, E anda um aditamento: quando este texto for lido já estaremos no período de reflexão. Mas podem crer que ele foi escrito antes, mais precisamente às 01:30 da quarta-feira passada; porque combater contra os calendários e relógios que impávidos e serenos marcam, inexoráveis,  o tempo, não há reflexão que resista. 

1 comentário:

maceta disse...

este homem é a negação do cargo que ocupa e no dia em que for para reserva será esquecido.