sexta-feira, 8 de agosto de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Bento versus (des)Governo?

Por Antunes Ferreira

Mal pareceria a quem (ainda) me lê voltar ao desgraçado tema do assassinado BES e do seu herdeiro bom, o Novo Banco, por enquanto. Mas, surge um novo episódio desta telenovela de terror, sem bolinha vermelha no canto superior esquerdo, mas mesmo assim arrepiante. E falo de telenovela depois de Vítor (sem c) Bento ter dado a sua primeira entrevista como presidente do NB, o bom, à SIC.
Nela o Novo Banqueiro avisou urbi et orbi que a instituição criada miraculosamente pelo (des)Governo de Passos & Portas vai ter de sofrer um redimensionamento e que é mesmo muito provável que o processo atinja o número de trabalhadores e de balcões do que se tornou, por obra e graça do Espírito Santo, o outro, no trerceiro maior banco português. Coisa não rara, mas estranha. Mas, cautelosamente, não vá o Demo tecê-las será um plano a acertar com as partes interessadas, ou seja, os trabalhadores do NB.

Esta possibilidade deixada em aberto contrasta com o discurso feito horas antes no Parlamento pela ministra das Finanças. Para Maria Luís Albuquerque, a solução encontrada para resgatar BES é a que “melhor defende todos os interesses em jogo”: trabalhadores, depositantes e contribuintes. Aliás já Carlos Costa na sua deslavada intervenção televisiva dissera o mesmo: não se assuste ninguém porque não haverá despedimentos.

A banhos em Manta Rota, Coelho defendeu (obviamente) a “solução” adoptada pelo Governo e pelo regulador, o que equivale a dizer que não haveria despedimentos nos bancários que transitaram do obituado BES. E Portas seguiu o seu primeiro em declaração de fato e gravata, ao lado da sua antiga inimiga Maria Luís.
Na entrevista sicada, ups, citada, Bento disse que não sabe fazer milagres. Porém, para adoçar a anterior e preocupante afirmação sobre a possibilidade de despedimentos, deixou a garantia de que hoje o banco é mais seguro e mais forte do que era na sexta-feira negra em que, segundo o (ainda) governador do Banco de Portugal, a “coisa” esteve no fio da navalha. Bento aproveitou o momento televisivo para reafirmar que os depositantes estão protegidos. Felizmente. O povo é que não esteve pelos ajustes e só num dia, mais precisamente na segunda-feira, foi depositar na CGD duzentos milhões de euros levantados do ex-BES, agora banco bom.
Tudo indica que o novo presidente da nova administração do Novo Banco não começou muito bem. Terá metido o pé na argola? A sua declaração em se coloca na oposição ao (des)Governo poderá ter sido apenas um lápis de língua?, perdão, um lapsus linguae? A ser assim, Vítor Bento poderá ser equiparado aos professores que deram erros no exame para apreciação de poderem ser… professores.
Que fará Maria Luís? Que fará Carlos Costa? Que fará o (des)Governo? E que fará o suposto Presidente da República? Convém não esquecer a declaração de Cavaco que afirmou que o BES tinha mais do que uma almofada para prevenir qualquer sobressalto. Pelos vistos nem um travesseiro poderia aguentar o BES. O senhor Silva, que se meteu onde não era chamado, funcionou como public relations do bando e do banco do senhor Salgado. O que para o mais alto Magistrado da Nação poderia ter sido considerado mais uma demonstração do pluriemprego. O que não é aceite por Passos & Portas. Foi realmente uma viola num enterro.  Então, será o caso da zanga dos compadres por não dizerem as verdades.



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