segunda-feira, 27 de maio de 2013

ESTÓRIAS DO ZÉ GIL

GUARDA – SOL
                                                                                                   

O guarda-sol será uma espécie de guarda-chuva?!
No conceito de menino só podia dar no mesmo, pois desconhecia outros modos, ou outros usos, de proteger a cabeça do sol, na falta de chapéu ou lenço. Mais: os “artistas”, do tipo latoeiro, em digressão pela aldeia, eram designados por compõe louças e guarda- sois e não guarda-chuvas! Montava a “oficina” no largo, em frente da minha casa, depois de se fazer anunciado na única rua, do fundo ao cimo do povo, batendo as orelhas de um martelo no fundo duma velha sertã. As matracas da Semana Santa não conseguiam convocar tanta catraiada! Quando começava a trabalhar, ficava rodeado de mirones, e de olhos vivaços da pequenada! Os ensinamentos para aulas práticas não podiam ser mais eficientes por professor efetivo. Ainda, hoje, seria capaz de unir uma tijela partida, aplicando uns “gatos” de arame! ...
 – António, vai levar o guarda-chuva ao guarda-soleiro, para por uma vara nova – dizia a Elisa para o filho, ainda sem idade de frequentar a Escola.
O António só conhecia o arrieiro a desmontar a avó da Magalhã, da cadeirinha da égua baia, protegida dos raios solares de junho, pelo guarda-chuva (sol) até entrar para a casa de visita. Nunca vira uma praia! Só o Sr. Ferreira e o Sr. Professor Antunes iam para as termas do Vidago. Os chapéus de palha, comprados pelo Santo António, protegiam do sol toda a gente, até os malhadores do centeio nas eiras.
Tantos anos a residir no Porto e nunca tinha visto, domingo de manhã, ao ir comprar o jornal, dois guarda-chuvas abertos a secarem na varanda de um andar do bairro! Como tempo tem sido muito invernoso, é preciso poupar o pano do bolor. Raramente, se ouve a gaita do amolador de tesouras e navalhas (facas), a passar pelas ruas. Mas mais adiante, encontrei um stande de automóveis ao ar livre, com os carros todos de capô e malas abertos para secarem.
No tempo de crise os roubos, os crimes, enfim, todo o mal social aumenta. Diria: sofre mais o pobre e há menos tranquilidade para o remediado ou rico.
 Passaram longas décadas, desde o tempo de a Joaquina ter ido para Paris fazer uma tese de mestrado. Os colegas, sem direito a essa regalia de complemento de instrução, resolveram ir visitá-la e conhecer a cidade Luz. Quando à noite passeavam, pela Concórdia e Pontes sobre o Sena, um ladrão de esticão, rouba a carteira à Joaquina! Perplexos, todos gritam e correm atrás do gatuno, enquanto a estimada amiga ria, ria!...
 – A carteira era velha, só continha papéis... Já era para ser furtada!
Recordei o acontecimento, quando na bonita cidade do Porto, com Pontes Modernas de nível mundial, me roubaram, na semana passada, um guarda-chuva baratucho e velho. Andava com ele no carro, servindo para uma emergência, o que se veio a verificar na rua de Costa Cabral. Necessitando de dar um recado breve ao João, a trabalhar numa sala de um rés-do-chão elevado, e como tinha de usar um truque, a fim de manter o guarda-chuva aberto, não o fechei, e meti-o dentro da porta aberta para a rua, subindo os poucos degraus. Nem um minuto demorou. O guarda-chuva foi roubado!
 Apanhei uns pingos de água até ao carro, mal estacionado, e sorri:
 O guarda-chuva já foi deitado ao lixo pelo ladrão!


Porto, 15 de maio de 2013

                                                                                   José Gil Correia Monteiro

                                                                                 jose.gcmonteiro@gmail.com 

1 comentário:

Kim disse...

estórias simples, singelas, mas interessantes, estas