sábado, 12 de dezembro de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS

É tempo de fazer contas


Por Antunes Ferreira


Para António Costa começou  o tempo mais difícil: o de fazer contas. Neste particular a agilidade e o jogo de cintura são essenciais. Essenciais? Obrigatórios. Enquanto decorreram as conversações a três para a formação de um governo de esquerda – e, tanto quanto se sabe elas foram duras – estava-se no princípio do ano do estado de graça. Não se partiu para um casamento, porque as juras de fidelidade mútua não foram enunciadas. Quando muito foi um contrato nupcial nunca um sacramento como defende a Igreja.
Por força da necessidade de recuperar o período que Cavaco Silva gastou inutilmente  a fim de protelar a tomada de posse do Governo de Costa, os três partidos nem tiveram tempo de chegar ao estado da construção de um Executivo fácil. Bem pelo contrário, eles nem seguiram para a lua-de-mel. E não consta que tenha havido um, ainda que singelo, copo de água. Penso que nem havia copo muito menos água, exceptuando  a que fora metida pela estuporada coligação que durante quatro anos (penosos) tentou dar cabo de um país chamado Portugal.
O prof. Cavaco, como se comprovou no palácio da Ajuda, não queria de forma nenhuma aceitar um Governo do PS apadrinhado pelo PCP e BE. O rictus que afivelou na face desde o início da cerimónia davam bem a ideia de como estava zangado; mas naquele momento já não havia nada a fazer. No entanto na mente doentia do suposto PR estava de há muito, instalada uma malandrice: o discurso ameaçador que utilizou. Cavaco apenas reforçou o que se sabia: é vingativo, inculto, ressabiado e mentiroso. Porém, Costa soube responder-lhe bem e civilizadamente…
Por tudo isso – e dando de barato que foi e é o principal culpado do estado a que se chegou (muito boa gente o diz; eu sempre o disse..) – o tempo que se perdeu entre o que devia ter sido utilizado na tomada de posse e o que ele gastou em reuniões de todos os que lhe convinham, levou a que o Governo de Esquerda se veja, agora, confrontado com a obrigatoriedade de queimar etapas em coisa de tanta importância como são o OE do ano que ainda corre e o que será aplicado em 2016.
Não se quis lembrar (ou não quis que o fizessem recordar) que, quando primeiro-ministro mandou arrancar vides e oliveiras e afundar barcos de pesca a troco de moeda mandada pela então CEE, por isso era um bom aluno… As contradições levaram-no a ordenar que a economia portuguesa devia-se fundamentar na… agricultura  e na pesca. E a inflação dos salários dos funcionários públicos – quem o fez?

Pelo caminho Costa teve de assegurar que Portugal, como tinha afirmado, iria cumprir todas as obrigações, quer na UE quer na NATO. No meio desta senda turbulenta, ainda se pôde ouvir o senhor Wolfgang Schäuble a dizer que o actual primeiro-ministro era um tipo simpático e que começara a gostar dele desde o tempo em que ambos eram ministros dos assuntos parlamentares e europeus. Quem diria? Mas o facto é que António Costa registou um golo para o desafio que tinha, tem e terá num horizonte político que se antevê proceloso.


Por isso rebobino para voltar ao início deste comentário: é tempo de fazer contas. E, apesar de ser o ministro das Finanças, Mário Centeno tem de utilizar um computador super certo. Os que eram usados pela falecida coligação eram mentirosos. Vão-se agora descobrindo buracos que um dia destes poderão ser aproveitado para procurar petróleo ou como entradas de novas estações do metropolitano. A ironia que costumo colocar em quase todos os meus textos poderia originar um sorriso – mesmo que amarelo. 
Porém, no caso presente não estou a tentar contar uma anedota. A situação é tão grave que nunca justificaria o recurso ao riso. Pelos vistos os cofres estão cheios de… ar e vento, ou quase. As crónicas e hipotéticas almofadas agora uma vez mais sublinhadas por Cavaco são miragens miríficas: de almofadas só têm o nome e dando de barato que possam existir, não têm sumaúma nem sequer fronhas. 
Portanto é tempo de calculadora e é tempo de aferição da solidariedade dos dois parceiros do Governo que o apoiam no parlamento, mas não fazem parte dele. Os amigos são principalmente para o lado mau das coisas. Não se pode estar – pelo menos na política – com um pé fora e outro dentro. Jerónimo e Catarina não podem esticar a corda; não podem nem devem. E já é corrente que há divergências comprometedoras em especial no que respeita ao salário mínimo.

Porque bem vistas as coisas há que remar no mesmo sentido, ainda que a contragosto. E não esquecer que há muita gente a meter paus diversos na engrenagem. Cavaco, por exemplo, voltaria ao “eu bem os avisei” porque, ele o disse, “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”…



 




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