terça-feira, 30 de julho de 2013

A MEIAS COM O RAÚL

TIRAM-NOS E NÃO DEIXAM

A meias com o Raul

Antunes Ferreira


Uma das melhores coisas que tive na vida foi ter sido amigo dum Senhor chamado Raul Solnado. Cito-o inúmeras vezes porque ele marcou momentos do Humorismo português que ficaram monumentos. Comer jaquinzinhos com o Raul era porreiro; não tivessem eles envergadura maior do que três dedos da mão espalmados e bem encostados um ao outro e este ao terceiro e eram aceites. No caso contrário, rejeitados com um sorriso solnadesco.

Desta feita, quando escrevo o meu primeiro contributo para a Zorra da Boavista, penso logo no comentário da mãe do soldado que ia à guerra de 1908 a propósito da necessidade de se arranjar um cavalo para ir para a guerra. Como não era possível arranjar um cavalo sem carroça que não fosse um animal a sério, mas um de tal modo escanzelado que estava cheio de moscas, a mãe atalhou a conversa: “o meu filho não vai encher a guerra de moscas…”

Porquê a citação/recordação, sim, porquê? Explico: eu não vou para a Zorra enchê-la com textos já publicados; pelo menos, pela primeira vez. Depois, logo se verá. Ou seja, as moscas aqui no texto, é que são outras. O prolegómenos já vai longo e penso que vale a pena tentar o STOP, mesmo sem sinal octogonal a vermelho com o referido STOP a branco. Por isso stopemos, ou mais precisamente, stopo eu.

A propósito, a ida à guerra tem que se lhe diga. Antes do mais, tenho de dizer que sou irrevogavelmente contra a guerra, o que quer dizer que lá não vou mais, a não ser que me promovam a vice-marechal. Assim, revogo o irrevogável – e vou. Num aparte que nem deveria existir, porque toda a gente sabe o significado de irrevogável, é ponto assente que o irrevogável é revogável e o contrário também é verdadeiro. Verdade.

No entanto, há guerras (ou quase) por todo este mundo que nós estragamos quotidianamente. O que é um real contrassenso. Temos só uma vida – pelo menos, eu tenho – aquela que significa a nossa passagem pela terra, já que na que dizem ser a outra não posso acreditar; donde, não acredito irrevogavelmente. Só voltaria com apalavra atrás se descobrisse uma agência de viagens que propusesse: voe para a outra vida  em avião de companhia low cost. Promoção em curso até um dia destes: pague três viagens e voe duas.

Não me parece uma ideia de todo má. No entanto, vou ter de  registar o copyright dela, não vá o Sr. Belmiro, ou o Sr. Santos, até mesmo o Sr. Amorim, sabendo que ela existe se adiantem e a utilizem nas respectivas grandes superfícies. Há gente capaz de tudo e lá diz a verdíssima Maria José Valério “cuidado rapazes, cuidado muito cuidado, há hipereiros que de tudo são capazes, e a fortuna não está sempre ao vosso lado”…

E assim, quando me sujeito à provação e à provocação de entrar num desses antros de consumismo com a intenção justa e justificada de comprar um pacote de batatas fritas family size, já adivinho que será melhor munir-me de carrinho para o efeito de interior. Porque é certo e sabido que trarei para o lar-doce-lar, uma embalagem de 12 copos de vidro pelo preço espantosamente saldado de pouco mais de cinco vírgula noventa e nove euros quando antes da benesse tinham o preço de vinte e oito vírgula cinquenta euros.

Mais: seis iogurtes magros com sabor a morango/framboesa, (leva seis, paga quatro), dois pacotões de detergente para a loiça e mais dois para a roupa em promoção, três quilos de entremeada, preço especial para esta semana, cdoze garrafas de água com piquinhos e seis sabonetes de glicerina, pagando apenas quatro, dois quilos de laranjas tipo Baía, mas made in Algarve (prefira produtos nacionais) e, finalmente, uma manga de chuveiro com regulação da saída da água, a preço da chuva, já que o da água está pelo preço da morte..


Com a crise e a austeridade, está-se perante o actual desfecho da croniqueta: com ela justifico o porquê de não começar a minha colaboração com um cavalo já montado; sei lá quem já o montou e quantas vezes… Ou, ditas as coisas de outra maneira: não a começar com escrita já publicada. Sei lá quantas vezes ela o foi – e por quem. 


E aqui está o primeiro artigo do Henrique Antunes Ferreira

1 comentário:

kim disse...

Boa aquisição! Quanto custou o passe?