segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

LIDO

«A tragédia de Cavaco e a comédia de Seguro



Os deputados comunistas e bloquistas assumem hoje o papel de protagonistas no terceiro ato desta espécie de tragédia à grega em que se transformou a política portuguesa. Juntarão, ao rol de malfeitorias inconstitucionais do Orçamento do Estado para 2013, pelo menos mais uma: o fim da progressividade no IRS.



O espetáculo vai decorrer, tal como os atos anteriores, no anfiteatro que dá guarida aos juízes do Tribunal Constitucional. Sendo que estes, que deveriam ser apenas uma espécie de técnicos de som e de luzes da democracia, serão obrigados a subir ao palco no quarto e decisivo ato de uma tragédia com autoria tripla: Passos, Gaspar e Portas, este no papel de idiota útil.



Não se infira do que foi dito uma crítica aos protagonistas do terceiro e quarto atos. São os únicos que representarão com decência o seu papel. Comunistas e bloquistas limitam-se a ser consequentes. Ainda não entusiasmam a maioria da audiência, mas demonstram mais sintonia com o pulsar dos espectadores do que aqueles que costumam arrebatar os papéis principais. Os juízes, por sua vez, só participam por óbvia desistência de outro ator político.



O presidente da República, ator e solista do primeiro ato, decidiu que o melhor é ficar de bem com Deus e com o Diabo, retirando-se com a peça em suspenso. O Orçamento é inconstitucional, é injusto e vai provocar uma espiral recessiva, traduzida em mais desemprego e falências. Trágico, portanto. Mas... antes aprovar um Orçamento assim, que causará tanta tragédia, mais uma vez à grega, do que enfrentar a Troika (o Diabo). E para que o Povo (Deus), que tantas vezes lhe rendeu aplauso, o não condenasse, declamou um das melhores e mais inconsequentes peças de retórica alguma vez escritas. Intitulava-se Mensagem de Ano Novo, mas estava prenhe do maior defeito do velho Cavaco: o que interessa é sair incólume da história.



P.S.: Não por acaso omite-se da parte principal deste comentário aos desempenhos na tragédia a prestação do protagonista do segundo ato. O líder socialista provou mais uma vez a sua irrelevância, já não apenas de conteúdo, mas também cénica. Seguro subiu ao palco, é verdade, mas sempre protegido pelo pano e imitando, já sem brilho e ainda menos brio, a prestação de Cavaco. Talvez o socialista aprecie mais a comédia. Dá-se o caso de que, para essa, acabou o dinheiro.»

.

Rafael Barbosa, in JN de hoje



Sem comentários: