quinta-feira, 9 de junho de 2016

TÍTULOS

Ocorreu há dias um quase-milagre, que terá sido notícia em todo o mundo: uma criança nasceu depois de uma gestação de 107 dias na barriga da mãe em paragem cerebral.
Honra à equipa médica e para-médica que acompanhou a gestação e trouxe o bebé à luz do Mundo.

Entretanto, hoje, um jornal escarrapacha na sua 1.ª página o seguinte título:

BEBÉ-MILAGRE REJEITADO PELO PAI 
Alegou no hospital não ter condições para ficar com o menino


O que é apelativo é o título em letras garrafais, sendo que para ler o subtítulo é quase necessário o uso de uma lupa.
Deve ser por estas e por outras idênticas que tal jornal, ao que dizem, é de maior circulação no país.
Como se sentirá o pai se vir a capa do jornal, tanto mais quanto parece certo que tem a seu cargo um rapaz de 12 anos, filho da falecida?
Não há o mínimo pudor, decoro ou respeito pelas pessoas!
Vale tudo para vender papel?




4 comentários:

Kim disse...

Suponho que o jornal deve ser o pasquim correio da manha. É de vómito.

Janita disse...

Já ouvi hoje, por duas vezes, essa notícia acerca do bebé que nasceu pós a morte cerebral da mãe, passados uns meses.
Ainda me debato com a sensação de incerteza sobre o que levará à especulação de um acontecimento que me perturba tanto.
Como será o futuro dessa criança? Confesso que há coisas que me transcendem e não sei como enfrentar. Será ético manter a mãe viva, artificialmente, e após o nascimento da criança deixá-la partir como se tivesse sido uma máquina?
Não consigo explicar isto que sinto...

Janita disse...

Após, claro. :(

500 disse...

O problema que a Janita levanta é de outra natureza que não aquela que suscitei.
Ao que li, quando a mãe "morreu" já não era legalmente possível provocar o aborto e a comissão de Ética e um tribunal foram chamadas a pronunciar-se e foi seu entendimento que a gestação deveria prosseguir, até porque o bebé não apresentava malformações.
O assunto é passível de discussão, mas (com os dados que a comunicação social fornece), aprovo o que foi feito.
O que reprovo é o aproveitamento que um dito jornal faz com o assunto, patamar diverso do do seu comentário, que merece o meu respeito.