Por Antunes Ferreira
Na quinta-feira passada a notícia do dia foi a rescisão “por
mútuo acordo” do contrato que ligava Paulo Bento à Federação Portuguesa de
Futebol, o que em termos menos codificados quis dizer que ele deixou de ser o
seleccionador nacional. Para segundo lugar passaram a guerra na Ucrânia, os
crimes hediondos dos jihadistas, a fundação de um novo partido por iniciativa
de Marinho Pinto, os debates Costa-Seguro (ou Seguro-Costa para não ser
considerado parcial) e mais que me dispenso de enumerar. Até as Notícias Google
abrem com o divórcio no futebol nacional.
Aponta-se o novo timoneiro para a selecção que, depois do
descalabro verificado na Copa do Mundo do Brasil, fez o pior resultado dos
lusos, perdendo com a Albânia e em casa, mais precisamente em Aveiro. Uma
vergonha nacional - disseram críticos da especialidade e outros que vieram
comprovar a afirmação calina de que os portugueses são os melhores treinadores
e experts em futebol no sofá.
Se algumas dúvidas houvesse sobre a importância do “Desporto
Rei” (a que alguns chamam chuto na canela) no Mundo e por isso também em
Portugal elas soçobrariam nesta ocasião. De resto, já no tempo salazarento o
ditador de Santa Comba Dão percebeu que o futebol era o melhor derivativo para
as enormes dificuldades e deficiências do Portugal da “Casa Portuguesa”. O povo
que (quase) sempre tem razão disse sem meias tintas “pobretes mas alegretes”.
Este nosso país que era nesse sinistro período do “Estado
Novo” (curiosamente hoje há um Novo Banco e isto resulta apenas da associação
de vocábulos feita pelo autor do escrito) conhecido pela terra dos três F:
Fátima, Futebol e Fado, não tem emenda. Se se fala de algum assunto, se se
discute a propósito, se se engalfinham sujeitos tudo resulta do futebol. E se
calhar alguns dos crimes de sacho ou machado não são tanto por ciúmes ou por
diferenças de propriedades pelas quais passa o mesmo riacho. Vendo bem as
coisas a futebolite também deverá contar como motivo para tais procedimentos.
Entretanto a curiosidade popular quanto ao famigerado caso
BES/Novo Banco é mais centrada no facto do Cristiano Ronaldo ser a face da
publicidade da cabeça do polvo de Ricardo Salgado. Fazendo jus ao que por aí
corre, Judite de Sousa – honra feita pela força de mãe amargurada e pelo
profissionalismo – na entrevista que fez ao Melhor Jogador do Mundo e da Europa
pôs-lhe a questão a que o futebolista respondeu com habilidade.
Esse sim, esse foi um momento que deu motivos para se
abordar com satisfação o futebol português. Com satisfação e orgulho diria eu.
Toda a entrevista dividida em duas partes veio demonstrar que Judite de Sousa
fez um tremendo esforço para um sorriso deslavado em alguns dos momentos mais
engraçados. Mas também veio confirmar que o craque madeirense melhorou – e de
maneira – na forma de se expressar com um português muito aceitável num jogador
de futebol. Por isso aplaudi os dois e dei-lhes os parabéns pela maneira com
que se comportaram frente às câmaras televisivas.
Creio que tenho alguma legitimidade para assim dizer. Quando
o Cristiano Ronaldo veio da sua ilha para o Sporting, assisti à
conversa/entrevista feita pelo António Castro chefe do “Desporto” do Diário de
Notícias. O jovem metia as mãos pelos pés e vice-versa nas pretensas respostas
(?) que dava ao jornalista. E para mim pensava que sendo considerado um jovem
diamante futebolístico no modo de estar em campo, precisava de ser lapidado. E,
pelos vistos, foi.
Mas, o relevo da comunicação social, na quinta-feira foi
muito maior do que o concedido a uma entrevista que considero um dos bons
momentos da televisão em Portugal. A saída de cena de Paulo Bento pela porta do
cavalo teve uma repercussão muito maior. E a pergunta logo surgiu: Bento: quo
vadis? No fundo, este pobre país tem hoje não três mas quatro F: Fátima,
Futebol e Fado, a que se deve acrescentar Futuro. O que, como diz o Chico
Buarque (e neste particular do último F) a coisa está preta.
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