A percentagem do IVA
Por Antunes Ferreira
Corre por aí uma polémica que considero estapafúrdia – a que
diz respeito à percentagem do IVA a aplicar às touradas ou corridas de touros
(deixo aos interessados o livre alvedrio da escolha) – que já motivou inclusive
alguma confusão dentro do Partido Socialista. Ora se mo permitem (e mesmo que
não mo permitam) vou meter aqui a minha colher porque a bem da verdade não se
trata de questão entre marido e mulher…
Os meus progenitores, o sr. Henrique Silva Ferreira e a dona
Glória Hermínia Prata Antunes eram aficionados, diria mais, aficionadíssimos.
Tourada a preceito era tiro e queda, fosse ela a normal, fosse aquela à
portuguesa. Seguiam-nas quase todas aqui e no país vizinho, normalmente atrás
da estrela maior do toureio português, o célebre Manuel dos Santos, natural da
Golegã, que tinha como apoderado o sr. Patrício Cecílio (que diziam as más
línguas era o pai putativo do rapaz)
O meu pai era regente agrícola pela Escola Agrícola de
Santarém e, vejam lá, forcado do Grupo de Amadores da mesma cidade, o seja o
Grupo de Forcados Amadores de Santarém e tinha a especialidade de cernelheiro
isto é pegava os cornúpectos de cernelha com outro camarada. Era então o cabo
do grupo um homem que ficou para a história dele de seu nome António Abreu.
Um dia, tinha eu doze anos, o meu pai levou-me à estalagem
Gado Bravo, ali na Recta do Cabo na outra margem em plena lezíria ribatejana,
local de reunião de aficionados tauromáquicos, que possuía um tentadeiro anexo.
Nele decorria uma garraiada com uma pequena novilha (quiçá de mama…) no
redondel e muita rapaziada que iam tentando pegá-la ou novilha-la com mais ou
menos sucesso. O pai Ferreira disse-me então para ir também para a praça e
ensaiar os dotes que sabia que eu tinha para a pega e citou – estou a relembrar
a cena como se fora hoje – filho de peixe sabe nadar! Queria ele dizer na sua
filho de pegador de touros à unha sabe pegar!
Porém quando eu lhe respondi muito envergonhado e enfiado
que não senhor, não ia, que o bicho tinha dois paus na cabeça (na altura não
dizia cornos na frente do meu progenitor)
a tristeza com que recebeu a minha cobarde negativa ainda hoje a tenho bem viva
diante dos olhos.
Daí a qualificativa estapafúrdia que empreguei sobre a
polémica que corre sobre a percentagem do imposto sobre o alor acrescentado.
Ainda se fosse sobre a proibição ou a continuação da actual situação poderia
ter algum significado. Que me desculpe o PAN
mas tenho de fazer a pergunta calina: então e Barrancos?
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