segunda-feira, 26 de junho de 2017

CONTRIBUTOS EXTERNOS

_    AZINHEIRA  _
                                                                         

Gil Monteiro*

Na última ida ao Douro, fui visitar as vinhas, olivais e árvores de frutos. As cerejas, pêssegos do S. João e nêsperas (um pouco queimadas), estavam um espanto de abundanças e saborosas, até os passarinhos sorriam nos ninhos pensando que eram os pais que se aproximavam! -- Ano farto e belo... Apenas se notava a falta de água nos riachos para lavar e refrescar a fruta. Mesmo quentes e com pó foram trincadas.
Os terrenos rejeitados para o plantio de vinho do Porto, e não autorizados pelas inspeções, devido a serem penhascos quartzíticos de forte inclinação e fragas agudas, apenas sobrevivem algumas azinheiras, cujas bolotas alimentam javalis, cada vez em maior número e mais adaptados aos ruídos dos tratores e menos trabalhadores rurais, que laboram em rogas de manhãs e tardes.
Uma azinheira muito velha de idade perdida, restava entre poucas videiras também velhinhas, recolhidas entre fragas e solo foçado pelos porcos-bravos na procura da bolota caída! Os trilhos são tantos que até se encontram fezes nas saídas para os montes inóspitos.
As folhas persistentes do azinhal dão frescura, no tempo tórrido aos animais e trabalhadores. A madeira bonita e preciosa é utilizada no mobiliário, dando cabos de facas, colheres e garfos. As molduras de azinho são mimos nos quadros antigos.
Crescem na paisagem árida, cobrindo os penhascos, entre oliveiras, alguns sobreiros, vinha e olival. Os montes e vales mostram fios, postes e cabos elétricos imitando terrenos mágicos!
As barragens fluviais e postes eólicos e de transporte de energia mostram o Douro do século XXI , a passarada ganhou vantagem, menos os cucos e os gaios. Os terrenos de semeadura estão quase extintos... Não topamos trabalhadores de socos ou botas, deslocam-se em carrinhas e até motos quatro rodas. Não vão às fontes (foram entupidas pelos saibramentos) têm as suas garrafas ou garrafões de água de marca! E trabalham pela fresca... Com os fortes herbicidas, adeus cavas e redras. Até a vindima mecânica ocupa pouca gente, apesar de ter aumentado em dezenas e centenas. As raras azinheiras dão sombra e poiso às vindimadeiras, enquanto os tratores carregam e descarregam os belos cachos vermelhos!
O vinho fino, agora servido por garrafas, nos dias de festas e culinária, então os doces? E os licores?! Beber uns copos só no vasilhame e dias de carregação para Gaia. Barcos rabelo só para turistas --- rio acima, rio abaixo!
Tantas ciências magicam ainda não e não temos o controlo dos ventos e das chuva (!?) Venha a velha água-pé e o néctar do Porto a fazer estalar a língua no palato!... Mesmo, comendo bolotas assadas!...

  
Porto, 14/6/17
* José Gil Correia Monteiro

3 comentários:

Janita disse...

Gosto tanto destes 'contributos' do seu amigo Zé Gil, José.
Dê-lhe, pf, os meus sinceros parabéns e um abraço desta sua humilde leitora.
Janita

Kim disse...

O seu amigo escreve bem

500 disse...

Agradecido a ambos, em nome do meu Amigo Zé Gil.