quarta-feira, 1 de abril de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS





ÁGUA DE COCO



Religiões de braço dado

 Antunes Ferreira


E
m tempo de Semana Santa volto ao tema Religião, não para enfatizar o catolicismo 
que por Goa existe – e do qual dei conta noutro artigo deste blogue – mas para apresentar um fenómeno inter-religiões que aqui subsiste. E de que maneira… Para um observador como é o meu caso que uso dizer e escrever que já fui católico, mas curei-me, é interessantíssimo constatar que as práticas religiosas valem o que valem, mas coexistindo têm mais valor acrescentado, para usar linguagem “politicamente correcta” que ninguém sabe exactamente o que é, mas é de bom tom utilizar… 

S. Francisco Xavier - urna


N
o ano de 1980 quando pela primeira vez cheguei à “Pérola do Oriente” decorria a festa de São Francisco Xavier. Uma multidão avassaladora enchia a Velha Cidade onde se encontram diversos templos católicos, num dos quais, a basílica do Bom Jesus, onde num túmulo de prata cravejado de pedras preciosas e de vidro repousa o santo cujo corpo está incorrupto. Tendo morrido na ilha de Sanchoão (China) aí foi sepultado. O corpo foi depois transportado até Malaca, donde saiu para ser colocado no já citado túmulo de prata e vidro. Dizem as más-línguas que a pedraria terá sido roubada e actualmente é falsa. Mas…

O
 facto indesmentível que vi foi uma imensa fila de pessoas aguardando a vez de beijarem a urna com uma paciência verdadeiramente oriental. Católicos, outros cristãos, e hindus a constituíam. Vi com os mus olhos (e também com os meus óculos, que as dioptrias não se compadecem com a diminuição da visão...) Um verdadeiro exemplo da convivência religiosa, religiões de braço dado, pois até sikhs faziam parte dos que se propunham beijar a urna. Uma demonstração de que os crentes não têm raças nem bandeiras, países ou continentes. Sem grande dificuldade recordei Fátima – mas sem corpo incorrupto, agora múmia ressequida e acastanhada.

P
ois bem, passo adiante pois outra prática tem lugar na Semana Santa em Pangim da responsabilidade da Igreja católica. Trata-se das procissões, nomeadamente as da época. A propósito tenho de dizer que o meu Amigo Mário Miranda, o famoso cartunista falecido há dois anos, tem nesta matéria desenhos, muitos, que dão bem a ideia das procissões, naturalmente hábitos que ficaram do tempo dos portugueses. Com características irónicas como era seu timbre deixou para a posteridade registos incontornáveis.

Autor: Mário Miranda



V
amos então entrar pelo tema das procissões pascais na capital. São duas as principais: a do Senhor Morto e a do Senhor com a Cruz às Costas. Delas falarei um pouco mais à frente com os pormenores possíveis: Isto porque tenho de referir já a Procissão das Capas Magnas que decorre na Sé existente na Velha Cidade. É com orgulho aliás justificado que o padre Francisco Mascarenhas (primo da Raquel que exerce o seu múnus  na Austrália e principalmente é dono do apartamento em Colvá onde ficamos à borla…) me refere que esta procissão só se realiza em dois sítios no Mundo: no Vaticano e em Goa. Aceito como boa a informação do sacerdote – e de resto não tenho razões para nela não acreditar.

C
omo já referi por diversas vezes é na Velha Cidade que existe a maior panóplia de templos católicos, o Arco dos Vice-Reis reconstruído e mais exemplos da importância da que foi a primeira capital de Goa nos tempos portugueses. Só que descobriram que não tinha bom abastecimento de água e era muito atreita a doenças o que originou a mudança para Pangim. É um repositório histórico-religioso que não pode, nem deve ser ignorado nas visitas turísticas e outras.

V
olto, agora à capital que viu o seu nome mudado para Panaji, o qual apenas os serviços oficiais respeitam… As duas procissões têm em comum uma originalidade: durante o percurso delas, para além dos altos em capelas e quejandos, também param em dois locais que nada têm a ver com o catolicismo. Um é em frente da casa de um dos homens mais ricos, Caculó; o outro é perante o templo dos ismaelitas que aqui são chamados kojás. Em ambos manda a tradição que sejam feitas ofertas.

S
e fosse preciso dizer – e não é – esta interreliogisidade é marca da forma como em Goa se respeitam católicos e hindus. Pode acontecer – e acontecem – conflitos entre os membros das duas maneiras de estar no Mundo em quase todo o subcontinente que é a Índia. Os órgãos de informação locais e globais dão conhecimento frequentemente deles. Note-se que o hábito não faz o monge, mas é preciso respeitar a maneira local, as normas que a regem e não ultrapassar os limites. Tentações sobretudo da carne são das piores. Dizem...

C
onvém aqui apontar que não sou puritano bem pelo contrário, aliás creio que é do conhecimento geral que assim acontece. Mas, estou a desviar-me das procissões e da convivência entre credos muito diferentes bastando dizer que é monoteísta e o outro politeísta. Raras vezes tenho visto um caso assim, com a ressalva de que os muçulmanos não são para aqui chamados nos dias de hoje, ao contrário do que acontecia no tempo dos portugueses, segundo a Raquel e outros. 


Proibido o fio dental...


M
as em Goa não é assim. Acontecem crimes sexuais, violações, algumas colectivas. Mas há que ter em conta que turistas sobretudo europeias e nórdicas para além do cabelos loiros expõem-se a esses actos criminosos porque sabem bem que não lhes permitido o biquíni  reduzidíssimo, a tanguinha e o fio-dental – e usam-nos. E muito menos e obviamente o monoquíni. E lembro-me da Marylin Monroe: o pecado mora ao lado…



Gamada, como sua licença, ao H. Antunes Ferreira da sua Travessa

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