quinta-feira, 23 de setembro de 2021

EFEMÉRIDES

Neste dia, em 1973, morre Pablo Neruda, político e poeta chileno







BELA


Bela,
como na pedra fresca
da fonte, a água
abre um vasto relâmpago de espuma,
assim é o sorriso do teu rosto,
bela.

Bela,
de finas mãos e delicados pés
como um cavalinho de prata,
caminhando, flor do mundo,
assim te vejo,
bela.

Bela,
com um ninho de cobre enrolado
na cabeça, um ninho
da cor do mel sombrio
onde o meu coração arde e repousa,
bela.

Bela,
não te cabem os olhos na cara,
não te cabem os olhos na terra.
Há países, há rios
nos teus olhos,
a minha pátria está nos teus olhos,
eu caminho por eles,
eles dão luz ao mundo
por onde quer que eu vá,
bela.

Bela,
os teus seios são como dois pães feitos
de terra cereal e lua de ouro,
bela.

Bela,
a tua cintura
moldou-a o meu braço como um rio quando
passou mil anos por teu doce corpo,
bela.

Bela,
não há nada como as tuas coxas,
talvez a terra guarde
em algum lugar oculto
a curva e o aroma do teu corpo,
talvez em algum lugar,
bela.

Bela, minha bela,
a tua voz, a tua pele, as tuas unhas,
bela, minha bela,
o teu ser, a tua luz, a tua sombra,
bela,
tudo isso é meu, bela,
tudo isso é meu, minha,
quando caminhas ou repousas,
quando cantas ou dormes,
quando sofres ou sonhas,
sempre,
quando estás perto ou longe,
sempre,
és minha, minha bela,
sempre.

2 comentários:

Janita disse...

Conheço muitos poemas, poemetos e sonetos de Neruda.
Este não conhecia.
Tanto foi a bela chamada de bela que aos olhos de quem lê o poema fica a bela sem beleza.
Arre, apaixonar-se já todos nos apaixonámos, mas entrar numa expiral de toleimices poéticas fica cansativo.
O José não achou um exgero de tanto adjectivo, 'bela'?

:)
Beijinhos sem belezas

500 disse...

Tem razão. A beleza nunca ficou mal a ninguém, mas não exageremos.
Os mesmos mas com beleza, se não se importa.