terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

POESIA MATEMÁTICA


Porque hoje reli, aí vai a Poesia Matemática do Millôr Fernandes


 POESIA MATEMÁTICA - Millôr Fernandes


Às folhas tantas

Do livro matemático

Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base.

Uma figura ímpar:

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua

Uma vida Paralela à dela

Até que se encontraram

No infinito.

"Quem és tu?" indagou ele

Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode chamar-me de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram

-- O que, em aritmética, corresponde

A almas irmãs

-- Primos entre si.

E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar

Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissectriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.

E casaram-se e tiveram uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

Vira monotonia.

Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum

Frequentador de Círculos Concêntricos.

Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais

Um Todo Uma Unidade.

Era o Triângulo.

Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fracção

Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade

Como, aliás, em qualquer

Sociedade.

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