Num artigo de opinião hoje (*) publicado no Faro de Vigo, o jornalista Alberto Barciela afirma que "só os idiotas e os desorientados consideram o Porto a segunda cidade de alguma coisa. O Porto é Prima Donna. Ela é mãe, senhora, dama, querida, europeia, mundial, portuguesa e ibérica".
O conceituado comunicador galego dedica nesta segunda-feira uma página inteira sobre o Porto num dos jornais de referência da comunidade autónoma da Galiza. Destacando o papel predominante da cidade na Península Ibérica marítima, ao longo dos séculos, o cronista contradiz quem secundariza a urbe e a tenta menorizar precisamente por encerrar tanta história "densa" dentro dela.
A cidade, além de todos os predicados que nomeia - mãe, senhora, dama, querida, europeia, mundial, portuguesa e ibérica - "é tudo isso e muito mais, é o que pretende ser, mas sempre diva e altiva. O seu declínio apenas é mencionado por observadores desatentos. Não há nada tão moderno quanto o contraste de uma cidade cheia de miradouros que, porque sabe que é bonita, nunca se olha a si mesma, manifesta-se sem narcisismo".
Para Alberto Barciela o cosmopolitismo da Invicta foi facilitado, em parte, pela sua condição geográfica. "O planeamento urbano, condicionado pelo rio e pela orografia, define o Porto", reflete o também escritor, que encontra porém na sociologia uma explicação ainda mais lógica para essa abertura do Porto aos cinco continentes. "Todos sabem que a cidade resulta numa autêntica amálgama de seres e de entendimentos, de conexão com sua região metropolitana, com seu país, com as regiões vizinhas, com as colónias e com as grandes cidades, com o mundo, sem perder a sua essência".
Fazendo referência a obras de dois arquitetos portuenses Prémio Pritzker, Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura (como o Museu de Serralves ou estações icónicas da rede do Metro do Porto, respetivamente), o cronista ressalva que a contemporaneidade do Porto convive bem com a tradição enraizada na cidade e com um Centro Histórico classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), há praticamente 25 anos.
"Mas a cidade, cujo centro histórico foi declarado Património Mundial pela UNESCO em 1996, é moderna na sua antiguidade. Ela tem consciência disso e mostra-se com um esplendor nada improvisado. Todas as ruas abrem-se como um livro de histórias", assinala.
Para reforçar esta ideia, Alberto Barciela cita o poeta transmontano Miguel Torga: "O universal é o local sem paredes", querendo com esta reflexão conduzir o leitor para a ideia de um Porto que acolhe, que recebe, um Porto livre, liberal, sem fronteiras à liberdade de pensamento, que - imagina o autor - poderia ter inspirado, por exemplo, Fernando Pessoa a uma outra linha de desassossego, cujos "retratos literários sairiam mais verticais".
Há, na cidade do Porto que descreve, uma certa dicotomia que se conjuga para uma composição equilibrada. "O Porto é uma cidade de janelas semiabertas, ansiando uma brisa perpétua, um rumor deliberado, uma melodia harmónica, o barulho de um navio ou uma tempestade distante. É também uma cidade com portas entreabertas, como se quisesse ocultar uma decadência que não é bem certa, que resulta da vaidade de cidade antiga e da prudência de quem quer ensinar, com educação, o que deve ser mostrado".
Segundo o natural de Pontevedra, a história da cidade do Porto "foi moldada pelo conquistador atlântico-cristão e pela ambição saxónica, pela esperança e pela praticidade, pelo descobridor e pelo corsário, pela videira e pela cruz, pela praça e pela bússola". Antagonismos que a construíram e a fortaleceram ao ponto de a tornarem Invicta.
"Outras cidades precisavam da Corte e, com ela, a necessidade de procurar mundos, mas foi o mundo que procurou o Porto e que o encontrou na convergência de dois colossos: o Douro e o Atlântico".
Continuando a sua descrição sobre a cidade, o jornalista destaca a simpatia e afabilidade dos portuenses como um dos seus melhores cartões de visita. "Encontrará sempre a simpatia do morador, o devaneio do visitante, a alegria do convívio, o entusiasmo de todos, a seriedade transcendente dos empresários no Palácio da Bolsa mais elegante do mundo, os crentes na Sé do Porto, na Igreja de São Francisco, nos Clérigos ou no imponente Paço Episcopal, os artistas dos inúmeros museus e teatros, cinemas, armazéns, hotéis, restaurantes; as pontes, imponentes...; e sempre a elegância impressionante da rua: os comerciantes, os cidadãos; e do rio, com o tráfego dos barcos; e o Aeroporto Francisco Sá Carneiro ligado a outras 85 cidades do mundo. Já a noite é para o lazer e o lazer é dirigido a todos numa cidade plural e universitária", afirma.
Alberto Barciela, que confessa ser impossível, num só artigo, abarcar a "densidade" da oferta da cidade, termina referindo que "no Porto todo o mundo encontra a felicidade e a pratica".
"No Porto, a vida corre com um desejo de diversão. E sente-se uma nostalgia especial, saudade, mesmo antes de partir. Camões explicava-o bem: '...o Reino Lusitano, ... onde a terra acaba e o mar começa'. O Porto sabe disso e oferece-o. Inveja", conclui.
(3 de Agosto de 2020)
2 comentários:
Ah, Grande Alberto Barciela!!
E Bibó Puorto, carago!
Biba, carago!
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