{ ARRAIAIS POPULARES }
Gil Monteiro*
“ Cada roca seu uso, cada Terra seu
fuso” Não havia e nem há comunicação social de qualquer povoado sem os dias
dedicados à sua romaria ou a outras próximas. Sem as promessas religiosas
feitas a Deus ou aos Oragos ligados à vida campestre, por vezes citadina, a
marcar presença nas manifestações era obrigatório, mais que recitar o Credo da
comunhão ou um Jesus Cristo, valha-me Deus!
Em determinadas povoações demoravam
dias de festa. Desde a romaria e solenidades às feiras e concursos de gados e
arrais, e compras de materiais (mesmo de vestir e calçar) para o verão que se
aproxima. Era o que se passava nos dias dedicados a São José, em Vila Real, no
fim do estio, em Lamego, durante perto de um mês dedicado às diversas
atividades, desde procissões, teatros e cinemas. A feira franca funcionava
todos os dias. Quem se divertiam mais: os pais (mesmo cavadores de enxada) ou
os filhos nos carrosséis, carrinhos de choque, abrindo a boca de espanto nas
motas a girar por atletas, dentro do poço da morte!
Nas romarias mais fortes - fracas eram as
solenidades religiosas e as barracas de comes-bebes que duravam um fim-de-semana
prolongado, ficando a segunda-feira para o convívio dos residentes do povoado.
Até os preços de fim-festa eram mais baratos. O vinho corria mais fresco nos
pinceis.
Grande revolução: A com banda (s) de
música e andores deviam ter lugar antes da noite do arraial? Queixavam-se os
paroquianos. Após uma noitada de arromba: foguete, músicas e bailes, quem tinha
pés para ajoelhar e rezar, na passagem majestosa e pomposa dos santos e
anjinhos! Para não lembrar os mendigos e borrachos, em dias de abundância!
Eram nas festas anuais ou bianuais,
quando as aldeolas eram pequenas, que se compravam as roupinhas de verão, as
alpercatas e os brinquedos de lata e de barro. A flauta e os carrinhos de chapa
duravam até o próximo Natal! A compra dos chapéus de palha eram necessários (!)
As insolações não podia fornecer muitos defuntos e a vida campestre era
obrigatória: nem os lobos dos montes metiam medo às crianças!
Os anhos de pernas fracas, dizimados
pelos mamíferos carnívoros, defendiam a gente da região. Mesmo os cães
selvagens ou os perdidos dos rebanhos da Serra da Estrela caçavam cordeiros
para sobreviver, pois com os incêndios os coelhos e as lebres diminuíram!...
Como viviam os
pastores dos rebanhos durante a transumância das serras para as planícies,
durante os tempos invernosos e das neves? Albergavam-se em palheiros ou casas
de lareiras --- “ matando o frio “ das noites gélidas e de pastos comestíveis
para o grande rebanho. Os montes e olivais abandonados eram locais de
pastagens; pois após a lei que obrigou a retirar as oliveiras dispersas pelas
vinhas de uvas para vinificação vinho fino ou do Porto, as oliveiras foram
deitadas ao desdém, apenas sobreviveram os clivais no sopé das montanhas; nas
localidades de lameiros transmontanos, onde a pastorícia era rara os pastores
alugavam os pastos cultivados dos milheirais, chegando às cercanias de Vila
Real! Considerando as ovelhas, mais as cabras como “ bombeiros sapadores “ não
haviam muitos e duradouros incêndios nos matagais das povoações (os terrenos
incultos eram limpos para as cortes dos gados e para estrumes dos campos de
milho, etc.)
Os terrenos de Tás - os - Montes e Alto
Douro estão a precisar de serem limpos pelo Estado... O preço de um helicóptero dava para pagar as
limpezas dos montes e caminhos, não descontando a biomassa arrecadada!
Porto, 21 de
abril de 2019
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