terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

                                                                                     Gil Monteiro*

Fomos criados para viver em comunidade. Somos seres gregários, em que a sobrevivência individual é rara, mas sempre auxiliada por outros elementos da natureza, nem que seja só o murmúrio de uma queda de água ou o rugido de uma fera, para lá dos canais de isolamento! Claro, passa a expressar apenas esses e outros sons, deixando de falar ou articular palavras. Isolar pessoas (os mais velhos) é acelerar a sua morte. Daí a necessidade das “conversas chatas” dos idosos e os excessos de comunicação digital dos jovens. Quase meninos, andam com telemóvel na mão e auscultadores nos ouvidos.
Resta às pessoas caseiras a televisão e os animais para quebrarem um pouco os isolamentos! Ia dizer, mesmo com empregada(o) domiciliária(o) – quem os pode ter! – as plantas das janelas ou cultivadas nas marquises são meios ótimos para passar o tempo e ter salsa fresca para os cozinhados!
Criado em aldeia transmontana, onde as casas de lavradores tinham o seu cão e gatos vários, de entrada e saída de casa livre, apenas impedidos, tapando o buraco próprio, quando o porco morto secava pendurado numa trave do telhado da lareira. Tive, pois, mais contactos com os cães, chegando a ter um só meu, enquanto fui para a quinta de Provesende, para poder frequentar a 2ª classe, devido à Regente Escolar de Roalde ter emigrado para o Brasil! Os gatos são mais fofos e ariscos. Era raro encontrar um que pedisse colo ou desse colo. Estar no escano da cozinha não era com eles, estavam receosos do excesso de calor ou de apanhar pingos de água quente. Quando escolhi um bonito, todo pretinho, levei-o, metido num saco, no cavalo a caminho da quinta, na passagem pelos povoados, berrava, berrava!...
 – Levas aí um gato roubado! – Ouvia à volta do cavalo.
Aberto o saco, na grande cozinha lajeada da quinta, deu um salto, fugindo para a zona de salas, quartos e jardim. Adeus, gato! Não foi mais visto, nem sentido...

Passados meses, no regresso do caminho da Escola, vindo pela mata de pinheiros, tinha à espera o velho caseiro, Balhestra (!). Esbaforido, só conseguia balbuciar:
 – Ó menino, ó menino, venha ver o que apareceu na cozinha!...
Corri. A Maria Soqueira, de mãos postas, apontou um canto da cozinha, dizendo: “estão ali dois gatinhos pequeninos”!... Esperámos: surgiu outro filhote na boca de um bichano preto!
Seria o meu gato preto uma gata?!...
Sobreviveu no monte, mas não deixou de defender a prosperidade da sua comunidade.
As minhas cabacinhas, cultivadas na horta, ficaram mais bonitas, deixaram de ser atacadas por ratos! Pena não servirem para o vinho precioso, só utilizadas para vinho de consumo e aguapé doce das borras do vinho do Porto, depois de levado, em carros de bois, para os barcos rabelos, atracados no Pinhão.
Temos, no Porto, uma cadela arraçada de nobre espécie, salva da morte, em cruzamento de muito trânsito, onde foi abandonada, com coleira e trela. É muito irrequieta, mas muito meiga. Tem o condão de me obrigar a vir à rua passear ou fazer novos amigos. Quando a conversa estica, senta-se, cheia de paciência no passeio da rua; quando o telefone fixo toca, faz ai, ai, ai até ser atendido; não ladra e os moradores gostam dela...


Porto, 10 de dezembro de 2014
                                                                                        *José Gil Correia Monteiro
                                                                                       jose.gcmonteiro@gmail.com




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