segunda-feira, 1 de maio de 2023

MAIO

Canção com Lágrimas e Sol
 

Eu canto para ti um mês de giestas
um mês de morte e crescimento ó meu amigo
como um cristal partindo-se plangente
no fundo da memória perturbada.

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
e um coração poisado sobre a tua ausência
eu canto um mês com lágrimas e sol: o grave mês
em que os mortos amados batem à porta do poema.

Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
quem me dera em Maio. Depois morreste
com Lisboa tão longe ó meu irmão de Maio
que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.

Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.

Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa viúva (com lágrimas com lágrimas).
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.

Manuel Alegre





 

3 comentários:

Janita disse...

Vou fazer-lhe uma confidência, José.
Adoro toda a poesia do Alegre, mas não suporto o homem, o cidadão, a pessoa que ele é. É algo mais forte do que eu.
Gostei da sua escolha, pois o poema é lindíssimo, triste, mas lindo.
E claro, a voz de Adriano é sempre uma mais-valia.

Beijinhos.

500 disse...

Também gosto da poesia do Alegre. Como pessoa, nem tanto, não é lá muito simpático.
Do Adriano, gosto de tudo que cantava, especialmente desta.
bjis.

maceta disse...

Dos mais belos poemas e cantado pela voz profunda de Adriano.
As obras de arte ficam e as pessoas vão...