quarta-feira, 13 de novembro de 2019

CONTRIBUTOS EXTERNOS


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  Gil Monteiro *

Quando era pequenote, os irmãos (cinco) mais idosos, deixaram o interesse em brincar comigo ou participar em casa, no tempo dos trabalhos domésticos ou campesinos ou frequência da Escola, fora do lugar da póvoa! Ouvir e contar estórias, e um ou outros piqueniques de companheiros e festas eram em pequena quantidade; em períodos de tempo curtos e animados... Onde os rebuçados de raminhos coloridos e as bombinhas de rabiar, sobrantes do carnaval, voltavam a assustar as meninas rueiras e alguns matulões, e agricultores de férias!...
        Apesar de ser baixote, e forte nas brincadeiras, era hábil e astuto, percorrendo a rua principal e as quelhas, refugiando-me nas cortes dos animais! Até os galos e as pitas entravam nas solenidades! O macho do Jacinto ( Juca ) mandava pinotes para todos. Era preciso ir avisar o dono para o acalmar. E fornecer canas de milho. Mimo de alimento que servia de manjar!
        As alegrias das correrias e das emoções vividas nos caminhos da Fonte da Tenaria iam dar ao caminho das aguadeiras de canecos e pastores de gado miúdo, no meio dos pares de namorados. Nos parapeitos da “Fonte Santa”, enquanto esperavam a vez, ouvia as lendas e narrativas dos Reis e da Santíssima Trindade...
        Nas escadas da Capela de fortes blocos graníticos existiam as conversas dos adultos e lavradores inativos. Na primavera e verão as escadas eram o clube do povoado, não só por os dias serem grandes e as águas serem poucas para os milheirais e hortas.
        ---- Está na hora de ir regar a “relva” do lameiro dos Escovais ---- gritava o Sr. Jacinto (Juca Carrumba) para o filho mais velho, Toninho Juca.
        Fui sempre bem tratado pelos palestrantes do dito Clube: passavam a ter cuidado das asneiras, saídas das bocas, ouvia, baixinho, o Pereira dizer:
        ---- Cuidado (!), o menino pode ouvir, e contar!...
        As palavras sobre o Brasil (estadias; idas e vindas); localidades de França, vividas durante a guerra mundial eram sagradas nas escutas e sublimadas nos ouvidos! Assim, jamais esqueci o sangue frio e bravura do Soldado Milhões.
        O Juca Carrumba, já sem forças para lavrar ou cavar os campos e hortas, era o mais assíduo narrador, e mestre do saber dizer e clamar. Louvo a Deus ter a sorte de
podê-lo imitar, quando juntava a pequena rapaziada, e fazia, ou tentava fazer descrever pequenas lendas e contos ou anedotas de rua ou caseiras!
         As viagens com os velhos barcos à vela e os aviões de atingir com espingarda, e quase à pedrada do interior das trincheiras, hoje tão recordadas nos trágicos tufões e bruscas evoluções climáticas mais calamitosas do que as guerras antigas. O planeta Terra está em risco? Sim. Mesmo as várias galáxias mostram desagregação!
        Foi numa noite escura, de lampiões de lata e vidro, fui com mano Manel ver um filme ao salão do tio Jacinto (só tinha o telhado). Vi imagens no lençol da parede, onde esquemas da guerra das trincheiras do famoso Milhões! e ovelhas a pastarem em Seia e, vindas para as terras, vinhas e olivais transmontanas e durienses na transumância de inverno.
        Tive a promessa, quando a nossa cabra-linda tivesse dois um seria para mim! E assim aconteceu, nesse ano, pela Páscoa!
        Passei a ser dono mesmo do cão atrevido, da gata farrusca e da cabrita, recém-nascida, morinha. Vida de agricultor começou?!...

Porto, 8 de outubro de 2019
*José Gil Correia Monteiro

                                                                     
                                                                  jose.gcmonteiro@gmail.com

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