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Gil Monteiro *
Quando era
pequenote, os irmãos (cinco) mais idosos, deixaram o interesse em brincar
comigo ou participar em casa, no tempo dos trabalhos domésticos ou campesinos
ou frequência da Escola, fora do lugar da póvoa! Ouvir e contar estórias, e um
ou outros piqueniques de companheiros e festas eram em pequena quantidade; em
períodos de tempo curtos e animados... Onde os rebuçados de raminhos coloridos
e as bombinhas de rabiar, sobrantes do carnaval, voltavam a assustar as meninas
rueiras e alguns matulões, e agricultores de férias!...
Apesar de ser baixote, e forte nas
brincadeiras, era hábil e astuto, percorrendo a rua principal e as quelhas,
refugiando-me nas cortes dos animais! Até os galos e as pitas entravam nas
solenidades! O macho do Jacinto ( Juca ) mandava pinotes para todos. Era
preciso ir avisar o dono para o acalmar. E fornecer canas de milho. Mimo de
alimento que servia de manjar!
As alegrias das correrias e das emoções
vividas nos caminhos da Fonte da Tenaria iam dar ao caminho das aguadeiras de
canecos e pastores de gado miúdo, no meio dos pares de namorados. Nos
parapeitos da “Fonte Santa”, enquanto esperavam a vez, ouvia as lendas e
narrativas dos Reis e da Santíssima Trindade...
Nas escadas da Capela de fortes blocos
graníticos existiam as conversas dos adultos e lavradores inativos. Na
primavera e verão as escadas eram o clube do povoado, não só por os dias serem
grandes e as águas serem poucas para os milheirais e hortas.
---- Está na
hora de ir regar a “relva” do lameiro dos Escovais ---- gritava o Sr. Jacinto (Juca
Carrumba) para o filho mais velho, Toninho Juca.
Fui sempre bem
tratado pelos palestrantes do dito Clube: passavam a ter cuidado das asneiras,
saídas das bocas, ouvia, baixinho, o Pereira dizer:
---- Cuidado
(!), o menino pode ouvir, e contar!...
As palavras
sobre o Brasil (estadias; idas e vindas); localidades de França, vividas
durante a guerra mundial eram sagradas nas escutas e sublimadas nos ouvidos!
Assim, jamais esqueci o sangue frio e bravura do Soldado Milhões.
O Juca
Carrumba, já sem forças para lavrar ou cavar os campos e hortas, era o mais
assíduo narrador, e mestre do saber dizer e clamar. Louvo a Deus ter a sorte de
podê-lo imitar, quando juntava a pequena rapaziada, e fazia,
ou tentava fazer descrever pequenas lendas e contos ou anedotas de rua ou
caseiras!
As viagens com
os velhos barcos à vela e os aviões de atingir com espingarda, e quase à
pedrada do interior das trincheiras, hoje tão recordadas nos trágicos tufões e
bruscas evoluções climáticas mais calamitosas do que as guerras antigas. O
planeta Terra está em risco? Sim. Mesmo as várias galáxias mostram
desagregação!
Foi numa noite
escura, de lampiões de lata e vidro, fui com mano Manel ver um filme ao salão
do tio Jacinto (só tinha o telhado). Vi imagens no lençol da parede, onde
esquemas da guerra das trincheiras do famoso Milhões! e ovelhas a pastarem em
Seia e, vindas para as terras, vinhas e olivais transmontanas e durienses na
transumância de inverno.
Tive a promessa,
quando a nossa cabra-linda tivesse dois um seria para mim! E assim aconteceu,
nesse ano, pela Páscoa!
Passei a ser
dono mesmo do cão atrevido, da gata farrusca e da cabrita, recém-nascida,
morinha. Vida de agricultor começou?!...
Porto, 8 de outubro de 2019
*José Gil Correia Monteiro
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