Homens
rijos que nem cornos
«Somos gente de trabalho, de
muito trabalho. Somos gente que há 20 anos luta pelos seus direitos, por uma
vida melhor, e ninguém ouviu e a quem nunca deram nada. Somos gente de um
sindicato onde a política, os políticos e os sindicatos ligados à política não
entram. Somos gente de trabalho, homens rijos que nem cornos e vamos levar esta
greve até ao fim porque agora já nos ouvem», disse entusiasmado ao “PÚBLICO”
Francisco Fidalgo, 54 anos, filiado no SNMMP e que há 20 anos conduz camiões de
transporte de matérias perigosas.
Por Antunes Ferreira
Depois de uma maratona ao longo de uma noite e uma madrugada
foi acordado entre o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas,
SNMMP e a Associação Nacional de Transportes Públicos de Mercadorias, ANTRAN, com
a mediação do Governo, foi decidido levantar a greve que desde a passada
segunda-feira deixara o país na maior confusão pela falta de combustível.
E quem diria que um sindicato a que muitos chamavam
depreciativamente “Bebé” – fora fundado apenas a 8 de Novembro do ano passado –
conseguiria pôr Portugal de cócoras? Mas conseguiram-no e o resto é conversa da
treta. A frase tornou-se viral: «Somos homens rijos que nem cornos!»
Dita com um altivez e orgulho ela representa bem a independência de que os
motoristas de matérias perigosas. Uma greve que foi paga apenas e só pela
quotização mensal de 6,5 euros, pelos 800 associados.
Agora fica um ano para prosseguirem as negociações entre
patrões (ANTRAM) e trabalhadores (SNMMP) com o acompanhamento tão atento quanto
seja possível pelo Executivo. Porque o Sindicato já foi avisando que se não
houver acordo voltará a acontecer o flagelo da greve. Desta feita há que ter
muito cuidado e o aviso não cair em saco roto. Já se viu no que resultaram
estes quatro – sublinho quatro – dias de confusão, donde mais vale prevenir do
que remediar. Se é que remediar ainda for possível.
Não convém esquecer, de modo nenhum que se trata de lidar
com «homens
rijos que nem cornos!»
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