sábado, 9 de julho de 2016

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Futebol e patriotismo


Por Antunes Ferreira

Este domingo todos os portugueses (ou quase) vão fazer figas para que a selecção nacional ganhe o Europeu 2016. O problema é que do outro lado, todos os franceses (ou quase) estão nos antípodas: são eles que vão vencer o campeonato da Europa, anda por cima na sua casa. E isso, jogar em casa, é um dado importante num desafio de futebol internacional. Mas não é determinante. Normalmente os que jogam em casa são os ganhadores. Porém há também quem dê uma sapatada na “regra” e a mande às urtigas; porque, como é sabido, ela tem excepções. 

O povo também as tem; no caso vertente são os imigrantes portugueses que são muitos. Paris é “segunda” cidade portuguesa no que concerne ao número de cidadãos. E os nossos compatriotas que saíram de Portugal em busca de melhor vida do que aquela que o País não lhes proporcionaria, quando as “coisas” aquecem põem em primeiro lugar o patriotismo. Mais: são os mais patriotas entre todos os patriotas em declaração do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. O afastamento dos locais em que viviam que apesar de maus são sempre a “santa terrinha”, leva-os a considerar que “Portugal é mesmo bom!”

Aparentemente é um contrassenso; mas nestas questões de patriotismo não há regras para a apreciação de resto como em quase todos os domínios. Somos porque… somos. O mundo mafioso do maior “desporto” do planeta – que como toda a gente diz não mais é um desporto, mas sim um negócio – movimenta-se como um satélite em redor da sua “casa mãe”, como se fora um banqueiro “normal” perante o Goldman Sachs o “banco que manda no mundo”. E não trago hoje e aqui à colacção a nomeação do inefável cherne ou seja o sr. Dr. Durão Barroso para presidente não executivo desse monstro onde se joga o destino de países, políticos, economistas, financeiros e povos.


Entretanto é sobejamente sabido que o futebol é hoje mais do que ontem uma droga. De resto nos momentos mais revolucionários em que Portugal viveu depois do 25 de Abril, o futebol foi considerado o ópio do povo do país dos três Fs – Fátima, Futebol e Fado. O “vício” do futebol espalhou-se pelo Mundo inteiro. Onde menos se espera, lá está ele a alimentar as ilusões dos que nele veem o máximo dos máximos.

E no entanto se se quiser ser realista, há que saber que ele é um dos melhores negócios ilegais deste planeta a par com a venda de armas, a prostituição, a traficância das drogas e, já agora, a corrupção. Mas que importa se os desafios se resolvem num rectângulo mais ou menos relvado com as medidas permitidas do terreno que são de 90 a 120 metros de comprimento e de 45 a 90 metros de largura? A emoção está lá, as claques estão lá, os jogadores, os treinadores e as suas equipas, os polícias e até os apanha-bolas também lá estão. 

Os políticos também lá vão, uns porque gostam mesmo do futebol, outros por puro exibicionismo, por oportunismo ou por interesses mais escondidos. Por que bulas não havia de estar no estádio o patriotismo? Quem é o mais importante nos dias que correm: o Santo Condestável ou o Cristiano Ronaldo? Pergunta despicienda porque a gente sabe a resposta que não tem nada que ver com a Igreja de Roma…


Neste caldeirão de entusiasmos o patriotismo dos imigrantes portugueses no país de acolhimento, neste caso a França, é absolutamente natural. Com a agravante de segundo uma declaração às reportagens de uma portuguesa que vive há 35 anos em França, “se eles ganharem, vão dar-nos cabo da mona até à eternidade!”

1 comentário:

Janita disse...

É por isso, que eu tinha preferido que ganhasse a Alemanha...

Um abraço, Henrique. Bela crónica, onde tudo se mistura e no final tudo se encaixa nos devidos lugares! :)

Janita