sábado, 18 de julho de 2020

EFEMÉRIDES



Cesário Verde, por Columbano)

Neste dia, em 1886, morre José Joaquim CESÁRIO VERDE, poeta português



VAIDOSA


Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.

Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
a déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.

E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.

Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces
És tão loira e doirada como as messes
E possuis muito amor... muito "amor próprio".



2 comentários:

  1. Ah...o que eu gosto de César Verde!

    Acho que o José já teve o 'privilégio' :) de seguir algumas das minhas publicações a ele dedicadas.

    Este belo poema que lhe vou deixar, também já eu o publiquei.
    Lembra-se?
    -------

    Eu, que sou feio, sólido, leal,
    A ti, que és bela, frágil, assustada,
    Quero estimar-te, sempre, recatada
    Numa existência honesta, de cristal.

    Sentado à mesa dum café devasso.
    Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.
    Nesta Babel tão velha e corruptora,
    Tive tenções de oferecer-te o braço.

    E, quando socorreste um miserável,
    Eu que bebia cálices de absinto,
    Mandei ir a garrafa, porque sinto
    Que me tornas prestante, bom, saudável.

    «Ela aí vem!» disse eu para os demais;
    E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
    O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
    Na frescura dos linhos matinais.

    Via-te pela porta envidraçada;
    E invejava, - talvez não o suspeites!-
    Esse vestido simples, sem enfeites,
    Nessa cintura tenra, imaculada.

    Ia passando, a quatro, o patriarca.
    Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
    Uma turba ruidosa, negra, espessa,
    Voltava das exéquias dum monarca.

    Adorável! Tu muito natural,
    Seguias a pensar no teu bordado;
    Avultava, num largo arborizado,
    Uma estátua de rei num pedestal.



    Porque hoje é Sábado, deixo um beijinho!

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  2. Bem sei que aprecia sobremaneira o Cesário Verde e, sim, recordo já ter publicado alguns dos seus poemas. Não tenho presente que o agora por si transcrito tivesse já sido publicado no seu Cantinho. Até pode ter sido antes de nos "conhecermos", sei lá, pois a minha memória está cada vez mais entupida.
    Agora é só aos Sábados! Tomo a devida nota e, assim sendo, retribuo.

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