terça-feira, 7 de julho de 2020

EFEMÉRIDES

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Neste dia, em 1923, morre [Abílio Manuel] Guerra Junqueiro, diplomata, escritor e poeta português 

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Morena

Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu não… mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.

Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.

E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei… mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!

6 comentários:

  1. Como hei-de ser um Petrarca,
    Cantar como um rouxinol,
    Se o meu termómetro marca
    Quarenta e dois graus ao sol!

    Da lira bárbara e tosca
    Nem saem trovas d'Alfama.
    Enxota o Pégaso a mosca,
    E eu durmo a sesta na cama.

    A hipocondria maciça
    Conduzo-a, não há remédio,
    Na jumenta da preguiça
    Pelas charnecas do tédio.

    Eu trago a inspiração oca,
    Ando abatido, ando mono;
    Meus versos abrem a boca,
    Como os porteiros com sono.

    Não tenho a rima imprevista,
    Os guizos d'oiro ou de opala,
    Que à asa da estrofe o artista
    Sublime prende ao largá-la.

    P'ra lapidar à vontade
    Um belo verso radiante,
    Falta-me a tenacidade,
    Que é como o pó do diamante.

    A musa foi-se-me embora;
    Para onde foi nem me lembro;
    Só a torno a ver agora
    Lá para os fins de Setembro.

    Anda talvez nas florestas
    Fazendo orgias pagãs,
    Entre os aromas das giestas
    E os braços dos Egipãs.

    Deixá-la andar lá dois meses
    Colhendo imagens e flores,
    Para espanto dos burgueses
    E ruína dos editores.

    Enfim, o calor achata-nos.
    Vamos aos bosques pacíficos
    Onde os guarda-sóis — os plátanos —
    Têm forros novos, magníficos!



    Carta ( a um amigo que me pediu versos)

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    Gostei muito da sua escolha do poema, para homenagear o Escritor/Poeta, meu preferido.

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  2. Ah...os versos acima são de Junqueiro do seu "A Musa em Férias".

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  3. Esse poema não conhecia, como muitos outros, é evidente.
    ----

    Não me diga!, às vezes acerto.

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  4. Esclarecendo: não conhecia o poema por si postado; o por mim publicado, sim, já o conhecia há muito.
    Veja só: A virgem Maria, Jesus e também São José e Santa Ana deviam ser, de facto, todos morenos. E quem não quer ser moreno não lhe veste a pele...
    bjis.

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  5. Que raio de conversa vem a ser essa?
    Por acaso conhece alguém que veste a pele 'moreno' e não a assume?
    Eu não! Tenho muito, mas muito orgulho no meu apelido: "Moreno",
    o que não gosto é do meu nome próprio...
    Vejo que, para além de comer demasiado queijo, mete os pés pelas mãos...confundindo tudo.
    Com amigos assim quem precisa de inimigos?

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  6. Aprecio queijo, é verdade, mas não é por isso que, alegadamente, meto os pés pelas mãos. Trata-se aqui de um quid pro quo, para mim desagradável.

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