sábado, 18 de abril de 2020

EFEMÉRIDES





Neste dia, em 1842, nasce Antero de Quintal, poeta português



Divina Comédia

Erguendo os braços para o céu distante 
E apostrofando os deuses invisíveis, 
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis, 
A quem serve o destino triunfante, 

Porque é que nos criastes?! Incessante 
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis, 
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis, 
N'um turbilhão cruel e delirante... 

Pois não era melhor na paz clemente 
Do nada e do que ainda não existe, 
Ter ficado a dormir eternamente? 

Porque é que para a dor nos evocastes?» 
Mas os deuses, com voz inda mais triste, 
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?» 

Antero de Quental, in "Sonetos"

3 comentários:

  1. Sem dúvida, um poeta fabuloso
    .
    Feliz fim de semana

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  2. E, como Antero de Quental merece
    aqui lhe trago mais um Soneto seu
    que bem retrata estes negros dias
    que desfiamos, como quem reza uma prece...


    Disse ao meu coração: «Olha por quantos
    caminhos vãos andámos! Considera
    agora, desta altura fria e austera,
    Os ermos que regaram nossos prantos...

    Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
    E noite, onde foi luz de Primavera!
    Olha a teus pés o Mundo e desespera,
    Semeador de sombras e quebrantos!»

    Porém o coração, feito valente
    Na escola da tortura repetida,
    E no uso do penar tornado crente,

    Respondeu: «Desta altura vejo o Amor!
    Viver não foi em vão, se é isto a vida,
    Nem foi de mais o desengano e a dor.»



    Beijinhos e bom FDS.

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  3. Dizem os entendidos que Antero terá sido um dos maiores poetas portugueses.
    E poetas, sem abordarem o Amor, não são poetas, digo eu, nada entendido na matéria.
    bji e Domingo

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