quarta-feira, 21 de agosto de 2019

EFEMÉRIDES

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Neste dia, em 1986, morre Alexandre O'Neill, poeta português




Gaivota


Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.








2 comentários:

  1. Se me permite, e para que esta homenagem a Alexandre O'Neill fique mais completa, gostaria de juntar este soneto a esse belo poema a que Carlos do Carmo emprestou a voz, dando vida a uma das nossas mais bonitas canções em modo Fado.

    Congresso de gaivotas neste céu
    Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
    Querela de aves, pios, escarcéu.
    Ainda palpitante voa um beijo.

    Donde teria vindo! (Não é meu...)
    De algum quarto perdido no desejo?
    De algum jovem amor que recebeu
    Mandado de captura ou de despejo?

    É uma ave estranha: colorida,
    Vai batendo como a própria vida,
    Um coração vermelho pelo ar.

    E é a força sem fim de duas bocas,
    De duas bocas que se juntam, loucas!
    De inveja as gaivotas a gritar...



    Um beijinho.

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  2. Muito obrigado pelo belo soneto, que não conhecia.
    Dois beijinhos

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